sábado, 21 de abril de 2018

Conversas com o Cajueiro



Conversas com o Cajueiro

Já conversei algumas vezes com o cajueiro que está plantado no terreno de uma das escolas onde trabalho desde que cheguei à Fortaleza. Ele não me responde, claro. Apenas observa de toda a sua altura as minhas indagações durante todos esses anos. Dezoito anos depois da primeira vez que o vi, o cajueiro me encanta mais e mais. Pois a mim me parece que demonstra, com o passar dos anos, a autoridade e a imponência que só o passar do tempo dá às coisas vivas. O cajueiro é hoje um jovem e sábio senhor.

Cumprimento-o pela sua beleza, que não tenho certeza ser vista por todos os olhos que por ele passam, todas as vezes que o vejo. O fato é que meus olhos o viram cajueiro-menino ainda: tronco fininho que minhas mãos quase conseguiam abraçar, árvore baixota de frutos ao alcance dos meus quase 1.60 metros de altura, menino dono de pouca sombra aos seus pés. Antes tímido, agora ele já se impõe na paisagem e possui uma sombra que quase alcança a largura toda do seu espaço. Agora meus braços não são suficientes para abraçá-lo e seu tronco ganhou força e uma casca que denota respeito.

É bem verdade que tenho grande amor e admiração pelas árvores como um todo; um tipo de adoração. Acho-as lindas com sua tranquilidade e sabedoria de quem observa a vida passar à sua volta. Elas são abrigo, repouso; retiro mais próximo do divino para mim. Se pudesse escolher, adoraria na próxima vida ser uma árvore alta a morar numa colina. Deve ser tão bom ser vizinha de flores e casa de passarinho. Ver borboleta e beija-flor a namorar minhas flores, ser esconderijo de meninos.

Porém, com o tal cajueiro a relação é outra. O tenho como meu velho conhecido, um amigo. E por isso, mais do que às outras árvores da cidade, desejo a ele que continue sempre ali; que jamais serra alguma ponha seu tronco abaixo, e que ele continue a me ouvir. A verdade é que ao meu velho calado confidente eu quero muito bem.

No dia da Terra, 22 de abril, uma homenagem ao meu querido cajueiro que, como toda árvore e o nosso planeta, é de todo mundo e não pertence a ninguém.

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