quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Existência

 


Existência


Sonho ser árvore

frondosa de vários verdes

com suas raízes aéreas a respirar

a poderosa brisa do mar

que sobe o paredão da serra

sem pressa

raízes com asas

para eu estar no chão presa apenas em parte

serei árvore voadora

para vez ou outra acompanhar os pássaros que em meus galhos,

apaixonados pela vida,

seus ninhos fazem

e partem

Quero ser árvore florida no meio da mata

admirada de longe e

inatingível

na secreta existência tranquila

de quem não precisa mais de palavras

para falar

Sambando devagar





domingo, 7 de janeiro de 2024

La Vida

O Amigo Tempo

 


O Amigo Tempo

 

Com o tempo tudo passa. Já ouvimos alguém a dizê-lo tantas vezes por aí para os outros e para nós mesmos. Dê tempo ao tempo; dizem os mais velhos. Posso já incluir-me nessa categoria de gente? Os mais velhos. Talvez sim. Sinto-me no meio do caminho, ainda curiosa para saber como será o restante da jornada e certa de que toda mudança é boa. Mesmo aquelas que de cara nos assustam muito.

O tempo tudo cura, dizia minha mãe. O tempo parece passar mais veloz desde que Mima virou estrela. Curioso isso. E parece que já faz um tempão desde nossa última conversa. Sinto tantas saudades enormes dela. Saudades do tamanho das Cordilheiras. É, o tempo nos dá muita coisa, mas temos que entender que o tempo das outras pessoas e de tudo que é vivo não é eterno. Cada ser tem o seu tempo único e especial. Nos resta aceitar.

Quanto tempo tem o tempo que é meu? Me pergunto sempre. Não por medo; não. Meus medos o tempo de vida que tenho já se encarregou de levar. (Tirando o irracional medo às baratas que tenho. Só de pensar o corpo se treme. uuuhhgg). Contudo, fica a dúvida se terei tempo para ver e fazer tudo o que gostaria. Aprender a tocar um instrumento, falar uma nova língua, viver um tempo num lugar completamente diferente do meu, ver meus miúdos todos crescidos e florescendo felizes... Sei que coisas novas virão por aí, logo a dobrar a esquina, e isso me alegra.

Na mitologia, Chronos, deus do tempo, devorava aos seus filhos para que nenhum deles tomasse seu trono. No nosso caso, no meu caso pelo menos, sinto que somos nós que devoramos o nosso deus-tempo, ávidos por toda a vida que ele nos traz diariamente.

Meu amigo tempo, peço apenas que se demore um pouco por aqui ao meu lado; sem muita pressa e pronto para muita conversa regada a vinho ou café. Afinal, temos, mais uma vez, um ano novinho em folha para juntos saborearmos.