domingo, 25 de setembro de 2016

Os Meninos




Os Meninos


Um menino Sírio definiu, durante uma entrevista, o que significava a guerra para ele. Guerra, em sua compreensão, era algo inventado para que meninos e meninas fossem mortos, para que eles perdessem suas casas e suas famílias. É muito difícil para ele, como o é para nós todos, compreender de onde vem tamanha covardia. Por que os homens ainda fazem guerras? Entretanto, muito mais complicado torna-se toda a estória quando temos que aceitar que tal covardia nasce e mora dentro da gente também. Não?

É verdade que a maioria de nós nunca empunhou qualquer arma ou feriu a alguém. Nunca explodimos uma bomba para destruir uma vila inteira. Fato. Porém, o que dizer da indiferença que levamos conosco todo santo dia por todos os nossos caminhos? No meu país há meninos a dormir na rua e a pedir dinheiro nos sinais; há meninos que desconhecem o que deveria ser infância e cedo aprendem que nesta vida o negócio é morrer ou matar. Há crianças que choram e não têm ninguém por perto para consolá-las. Há crianças a passar fome bem perto de mim, e a vida está errada assim.

Bem, apesar de saber que nos é impossível comparar todas estas crianças com as nossas crianças. Com as crianças que protegeremos com nossas vidas se preciso for e para quem sempre estamos ali, bem ao pé delas para garantir que a vida seja, para todo o sempre e além, bela. Claro é que estes são nossos filhos, afilhados e sobrinhos e que serão para nós por toda a nossa vida nossos meninos; um sentimento único e profundo. Porém não deveríamos nos sentir também um pouco responsáveis por estes outros pequenos que são em sua essência iguais aos nossos: pequenos e indefesos?


Hoje ao ouvir Vilarejo, uma canção antiga de Marisa Monte, lembrei-me do menino sírio cujo nome eu desconheço e que talvez não esteja mais vivo. A canção Vilarejo já tem mais de dez anos e, entretanto, parece que foi escrita ontem com seu vídeo que repete cenas tão atuais que doem na alma da gente. Cenas alimentadas pela nossa indiferença.

A canção Vilarejo.


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Esquecimentos



Senhor Antunes... E sua Coleção de Esquecimentos.



Esquecimentos

aos poucos
e gastos pelo tempo
pelos receios
                      pelos zelos
deixamos de ser quem somos
quem fomos
e nos escondemos, dentro
de grossa casca antisséptica,
de nós 
mesmos
Nós nos esquecemos

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Rumo






Rumo


Num dia destes o coração dobrou a esquina do lado errado

sem que eu notasse e escapou-me das mãos.

Tomou caminho próprio sem qualquer consulta sobre o que

eu pensava do tal rumo súbito.

Imprevista decisão.

Um Não sobressaltado, indignado, adiantou-se, e tomou seu lugar de combate

a defender cegamente a razão cá dentro.

Contudo, não há razão para tudo aquilo que não carece de se explicar;

sobre os sentimentos não se pensa.  Apenas se sente sem pensar,

apesar do pensar.

Pois o moço resoluto mudou seu rumo e adaptou sua forma

guiado pelos olhos abertos que aprenderam a ver a beleza dos olhos que passavam

diante deles muitas e tantas vezes.

Expandiu-se o pequeno músculo para abraçar nova gente

a pôr meu mundo de ponta cabeça com sangue

correndo acelerado pela mente.

Apaixonei-me.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Music



Best videoclip ever according to my goddaughter. And I do agree with her. It's pretty good indeed!

Adventure Of A Lifetime
Coldplay
 
Turn your magic on
To me she'd say
Everything you want's a dream away
And we are legends
Every day
That's what she told me

Turn your magic on
To me she'd say
Everything you want is a dream away
Under this pressure, under this weight
We are diamonds

I feel my heart beating
I feel my heart underneath my skin
I feel my heart beating

Oh, you make me feel
Like I'm alive again
Alive again
Oh, you make me feel
Like I'm alive again

Said I can't go on, not in this way
I'm a dream that died by light of day
Gonna hold up half the sky and say
Only I own me

I feel my heart beating
I feel my heart underneath my skin
Ohhh, I can feel my heart beating
Cause you make me feel
Like I'm alive again
Alive again
Oh, you make me feel
Like I'm alive again

Turn your magic on
To me she'd say
Everything you want is a dream away
Under this pressure, under this weight

We are diamonds taking shape!
We are diamonds taking shape!

If we've only got this life
Then this adventure, more than I
And if we've only got this life
You'll get me through alive
And if we've only got this life
Then this adventure, more than I
Wanna share it with you
With you, with you
I said, oh, say oh

Woo hoo, woo hoo

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Menines





Menines

O Mundo é belo? Claro que é. Como bela é a vida também, mesmo que ela e ele, o mundo, sejam muitas e muitas vezes injustos, doídos, e que deles fatos tristes, feios e vergonhosos façam parte. Ok, nosso Mundo não é perfeito. Ele é difícil. Contudo, ele será sempre em sua complexidade bonito demais, não?

Oui mes chéris. Ele é bonito e caminha para frente, como nós, os humanos, caminhamos também; mesmo que de relance nos pareça que, feito caranguejo, andamos a dar passos para trás. Somos ainda mesquinhos e materialistas demais, verdade. Ainda fazemos guerras e matamos homens, mulheres e crianças pelos mesmos motivos de sempre: dinheiro e poder, outra verdade. Depois de séculos de existência ainda julgamos o valor dos homens e mulheres por motivos completamente alheios ao caráter destes e somos, profundamente, preconceituosos; verdade 3.

Porém, e apesar de tudo que parece ainda estar errado, não há como não ver que uma grande mudança em nós, na humanidade, respira e já colocou cabeça e mais de meio corpo para fora d’água. Estamos, neste momento, ampliando horizontes, expandindo nossos conceitos e criando uma realidade completamente diferente da que existia anos atrás. Queiram os ultraconservadores ou não. C’est la vie!

Há trinta anos o mundo era outro e a liberdade de sermos quem queremos ser verdadeiramente era muito menor do que a que temos hoje. Hoje, apesar de toda a violência e intolerância que ainda persistem, a realidade é que barreiras importantes foram vencidas, e outras terão o mesmo fim: cairão.

Mulheres pilotam aviões e são presidentes de nações, homens negros e mulçumanos estão em cargos importantes no famoso Mundo-Ocidental-Branco e homossexuais podem se casar e têm seus direitos reconhecidos em muitos países. Nosso gênero, (se somos homens ou mulheres e o que isso significa), não depende mais apenas da sorte no momento da fecundação, mas sim do que sentimos na alma da gente.

Estamos longe da perfeição, como sempre estaremos. Entretanto, não há como não celebrar todos os passos que demos até o momento. Um viva às mudanças e a um planeta Terra mutante e diferente. A um mundo onde novos pronomes pessoais serão necessários para definir toda a multiplicidade que há dentro da gente. Que venham as/os menines!

A linda voz de Liniker em Tua.




domingo, 11 de setembro de 2016

Ginsberg Wor(l)ds




My Sad Self

Sometimes when my eyes are red
I go up on top of the RCA Building
and gaze at my world, Manhattan—
my buildings, streets I’ve done feats in,
lofts, beds, coldwater flats
—on Fifth Ave below which I also bear in mind,
its ant cars, little yellow taxis, men
walking the size of specks of wool—
Panorama of the bridges, sunrise over Brooklyn machine,
sun go down over New Jersey where I was born
& Paterson where I played with ants—
my later loves on 15th Street,
my greater loves of Lower East Side,
my once fabulous amours in the Bronx
faraway—
paths crossing in these hidden streets,
my history summed up, my absences
and ecstasies in Harlem—
—sun shining down on all I own
in one eyeblink to the horizon
in my last eternity—
matter is water.


Sad,
I take the elevator and go
down, pondering,
and walk on the pavements staring into all man’s
plateglass, faces,
questioning after who loves,
and stop, bemused
in front of an automobile shopwindow
standing lost in calm thought,
traffic moving up & down 5th Avenue blocks behind me
waiting for a moment when ...


Time to go home & cook supper & listen to
the romantic war news on the radio
... all movement stops
& I walk in the timeless sadness of existence,
tenderness flowing thru the buildings,
my fingertips touching reality’s face,
my own face streaked with tears in the mirror
of some window—at dusk—
where I have no desire—
for bonbons—or to own the dresses or Japanese
lampshades of intellection—


Confused by the spectacle around me,
Man struggling up the street
with packages, newspapers,
ties, beautiful suits
toward his desire
Man, woman, streaming over the pavements
red lights clocking hurried watches &
movements at the curb—


And all these streets leading
so crosswise, honking, lengthily,
by avenues
stalked by high buildings or crusted into slums
thru such halting traffic
screaming cars and engines
so painfully to this
countryside, this graveyard
this stillness
on deathbed or mountain
once seen
never regained or desired
in the mind to come

where all Manhattan that I’ve seen must disappear.



quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Reza



Reza

Arruda é soldado verde, discreto e pequeno
que do seu canto, imóvel e cheio de encantos,
combate todo o mal que há nestas terras e além,
para o além delas.
Espada sagrada nas mãos das benzedeiras como Dona Antônia,
de mãos e cabelos muito alvos,
mulher doce que me acudia quando eu era pequena.
Rezava baixo uma reza misteriosa que aos meus ouvidos
soava tal língua estrangeira.
Mão esquerda  sobre a minha testa e galho miúdo de arruda a dançar no ar.
Mulher e planta unidas geravam força descomunal,
espantavam mau-olhado e maldição,
combatiam dor, praga e curavam toda e qualquer chaga
salvando, de uma só vez,  o corpo e a alma de toda a gente
que era capaz de crer naquilo que não se via.
Que não se vê.
Eu espantada, no colo de minha mãe sentada, buscava com meus olhos
de pouca idade a fonte de todo aquele poder inexplicável, divino,
vindo de mãos tão pequenas; as mãos de minha benzedeira.
Há dezenas de anos partiu Dona Antônia com suas ervas e rezas,
com sua voz serena.
Porém, nos dias claros e frescos nos quais o vento corre pelo mato e
as águas descem brincando pelos riachos,
eu ainda ouço a sussurrar aos meus ouvidos
a voz de reza misteriosa e curadeira a cantar;
está curada a pequena.

domingo, 4 de setembro de 2016

Meninos Brasileiros



Chapa

Emicida
 
Chapa, desde que cê sumiu
Todo dia alguém pergunta de você
Onde ele foi? Mudou? Morreu? Casou?
Tá preso, se internou, é memo? Por quê?

Chapa, ontem o sol nem surgiu, sua mãe chora
Não da pra esquecer que a dor vem sem boi
Sentiu, lutou, ei "Jhow" ilesa nada,
Ela ainda tá presa na de que ainda vai te ver

Chapa, sua mina sorriu, mas era sonho
Quando viu, acordou deprê
Levou seu nome pro pastor, rezou.
Buscou em tudo, Face, Google, IML, DP
(E nada)

Chapa, dá um salve lá no povo
Te ver de novo faz eles reviver
Os pivetin' na rua diz assim:
Ei tio, e aquele zica lá que aqui ria com nóiz, cadê?

Chapa pode pá, to feliz de te trombar
Da hora, mas deixa eu fala prucê
Isso não se faz, se engana ao crê
Que ninguém te ame e lá
Todo mundo temendo o pior acontecer

Chapa, então fica assim, jura pra mim que foi
E que agora tudo vai se resolver
Já serve, e eu volto com o meu peito leve
Até breve, eu quero ver sua família feliz no rolê

Mal posso esperar o dia de ver você
Voltando pra gente
Só voz avisar o quanto ama-te
Você de um riso contente
Vai ser tão bom, tipo São João
Vai ser tão bom, que nem reveillon
Vai ser tão bom, Cosme e Damião
Vai ser tão bom, bom, bom

Chapa, desde que cê sumiu
Todo dia alguém pergunta de você
Onde ele foi? Mudou? Morreu? Casou?
Tá preso, se internou, é memo? Por quê?

Chapa, ontem o sol nem surgiu, sua mãe chora
Não da pra esquecer que a dor vem sem boi
Sentiu, lutou, ei "Jhow" ilesa, nada
Ela ainda tá presa na de que ainda vai te ver

Chapa, sua mina sorriu, mas era sonho
Quando viu, acordou deprê
Levou seu nome pro pastor, rezou.
Buscou em tudo, Face, Google, IML, DP
(E nada)

Chapa, dá um salve lá no povo
Te ver de novo faz eles reviver
Os pivetin' na rua diz assim:
Ei tio, e aquele zica lá que aqui ria com nóiz, cadê?

Chapa pode pá, to feliz de te trombar
Da hora, mas deixa eu fala prucê
Isso não se faz, se engana ao crê
Que ninguém te ame e lá
Todo mundo temendo o pior acontecer

Chapa, então fica assim, jura pra mim que foi
E que agora tudo vai se resolver
(Vô menti prucê não mano
Às vez eu acho de bobeira um retrato lá em casa
Olho não aguenta não, enche de água)

Mal posso esperar o dia de ver você
Voltando pra gente
Só voz avisar o quanto ama-te
Você de um riso contente
Vai ser tão bom, tipo São João
Vai ser tão bom, que nem reveillon
Vai ser tão bom, Cosme e Damião

Vai ser tão bom, bom, bom




quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Sentimentos



Sentimentos


Tão variados quanto os seres que nesta terra caminham

os sentimentos são.

Altos e baixos, gordos e magros

Livres ou completamente apegados;

materialistas

Frouxos e rotos

Plenos e eternos

Eles vêm aos montes ou chegam parcos

num conta-gotas de coração.

Porém, e sem muito aviso ou explicação,

chega um amor novo e cheirando a bolo de fubá

e doces ervas

numa tarde de quarta-feira.

Mar se abre, o céu clareia e o peito acelera.

Estamos prontos para mergulhar...