quinta-feira, 31 de julho de 2014

OS MONSTROS DE JERUSALÉM



Que outra definição podemos dar aos atos de homens que matam outros homens, mulheres e crianças enquanto eles dormem num abrigo da ONU, numa escola, que não MONSTRUOSIDADE? 

Onde estão as sanções do Mundo contra isso? 

Onde estão as vozes do Ocidente?

Até quando os Estados Unidos ajudarão Israel neste genocídio?

Até quando o terror será utilizado pelo governo de Israel e pelo Hamas como arma política?


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Do escritor de nossa alma, saudades arretadas.




Noturno

Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.

Será que mais Alguém vê e escuta?

Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.

Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?

Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.

Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?

Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mãos...

Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.

Ó meu amor, por que te ligo à Morte?



LÁPIDE

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Ariano Suassuna

terça-feira, 22 de julho de 2014

How long?




Um Mundo de Absurdos


Por um instinto primitivo e sem muito pensar na crueldade do ato, tal lançar pedra de atiradeira a derrubar passarinho, um bando de um exército um tanto incerto e meio sem eira nem beira, desorganizado e equivocado, derrubou um avião. Claro é que já sabíamos que misseis podem derrubar aviões e que podemos considerar quase todo exército como algo por princípio equivocado. Contudo, nessa semana, descobrimos, sem ter compreendido completamente o ato em si, que não se precisa de muita coisa para realizar tal absurdo. Derrubar um avião é coisa fácil de fazer hoje em dia, banal. Algo que se faz porque deu na telha fazer.

Como puderam derrubar um avião? Como puderam assassinar tanta gente inocente como quem mata passarinho a voar: cruel e irresponsavelmente? E estamos todos indignados sem saber muito bem contra quem devemos dirigir a nossa indignação: russos, pró-russos, ucranianos. E a verdade é que a raça nada importa, porque a pergunta que martela na cabeça é aquela que grita: meu Deus, que tipo de gente é essa que por equivoco, descaso e falta de capacidade para pensar direito mata quase 300 pessoas inocentes numa piscada de pestanas? Isso é um absurdo descomunal e, jamais, mas nunca mesmo, deveria ter acontecido.

Apesar de este ato ter sido, assim, abominável e de sabermos que aquela é uma região em guerra, mais absurdo ainda é assistir ao massacre diário de palestinos presos feito ratos numa armadilha de onde não se pode fugir. E a pergunta que martela dentro do crânio é aquela que cheia de estranheza interpela: desde quando Israel ganhou o direito de matar indiscriminada e covardemente a toda uma gente sem ser classificada como uma nação tirânica e assassina? Não há ninguém para defender os palestinos? Onde estão as sanções contra Israel? Por que palestinos podem ser mortos às centenas como se pertencessem a uma classe inferior de gente? Que guerra justa é essa onde um lado tem canhões, aviões, escudos contra mísseis e bombas atômicas enquanto o outro lado tem, como suas armas mais poderosas, tuneis sob a terra, bombas atadas ao corpo e misseis que não vão a lugar algum?

Sei que há a tal argumentação de que Israel precisa acabar com o Hamas, os terríveis terroristas explosivos. Contudo não imagino que alguém aceitaria a ideia de os espanhóis terem, algum dia, bombardeado o país Basco para acabar com o ETA lá nos anos 80 e 90? Quem acharia certo que para acabarem com o IRA os ingleses tivessem exterminado todos os irlandeses da face da terra? Pois é isso que Israel procura fazer, não é? Roubando as terras palestinas pouco a pouco e usando sua força bélica para assassinar a qualquer um que habite o lado de lá do muro, Israel vai paulatinamente acabando com a Palestina e decreta, feito um Deus, que aquele povo não tem o direito de existir.

Em tempos nos quais crianças caminham mudas e apavoradas pelas ruas de sua cidade e olham aos céus aterrorizadas pela ideia de que possa haver drones armados a pairar, feito anjos da morte, por sobre suas cabeças, fica muito difícil acabar o dia sem chorar; sem gritar. Para onde avança a nossa humanidade se o mal anda a justificar o mal maior ainda? De que serve um mundo onde a vida não ter nenhum valor? Como dormir tranquilamente num mundo onde corpos de crianças, de mulheres e de homens comuns, são estilhaçados por um pedaço de terra diariamente? Que mundo absurdo é este?





domingo, 20 de julho de 2014

Doce




O sal era doce,
pois que o doce em seu interior sempre houve.
Bastava percebê-lo.
Bastava fazer o que deveria ser feito para o ver,
para sentir o mais doce que o sal pode ser.
Bastava fechar os olhos, cerrá-los, e saber.
Saber os sorrisos, e ouvir.
Ouvir do coração que sussurra o apressado compasso
de  um homem menino e seu mundo comum e,
divinamente,
particular.
Um mundo que é tão real do lado de lá
quanto o é do lado de cá.
Mundo imaginado e construído de sons,
lindos sonidos cheios de monstros, santos e fadas.
Sons mundanos e sagrados, o mais real no mundo do homem menino,
são o segredo d’alma,  da alma dele,
da alma minha.
Basta fechar os olhos para ver,
para saber: o sal é doce.





Há par mais certo nesta vida que o músico e a bailarina?
Ao menino que trouxe música para minha vida,
feliz aniversário.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Asesinos!

El País (Juan Gómez desde Gaza)

…A las cuatro de la tarde, Israel mató a cuatro niños palestinos e hirió a otros tres en un bombardeo en un muelle de la playa de Gaza que ya había sido objeto de ataques previos de aviación durante la semana pasada.

Tras bombardear un contenedor en dicho muelle, próximo a la playa del hotel Al Deira —frecuentado por la prensa internacional—, el Ejército de Israel tiró contra un grupo de niños que escapaba corriendo por la playa de la primera explosión. Murieron Mohammed Baker, de nueve años, junto a Ahed y Zakareya Baker, ambos de diez, y su primo Mohammed Baker, de once.


Hamad Baker, de trece años, que logró salvarse, contaba dos horas más tarde en el hospital Al Shifa que él, su hermano y sus primos escapaban “a toda velocidad” de la primera explosión cuando el segundo proyectil impactó en mitad del grupo de niños. Según tres testigos sin relación entre sí, ya estaban a unos 200 metros del lugar del primer impacto cuando les alcanzó de lleno la segunda explosión. Su madre, Taghrid, sentada junto a su cama de enfermo, se preguntaba “cómo los palestinos no van a clamar venganza ante estos crímenes” de Israel. “Lo único” que está logrando Israel, dijo con énfasis, “es fortalecer a Hamás y a la resistencia” para que “defiendan a la gente”. Mientras un grupo de periodistas atendía al pequeño Hamad en la terraza del Al Deira, su hermano menor Yunis lloraba en cuclillas junto a su cabeza. Su madre contaba después que siguió llorando mucho tiempo después en casa.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

justo




É justo, é justo, é justo
é justo
é justo
é justo
e não se entende como justo o que é profundamente justo
tão injusto pode ser
é justo, justo, justo, justo
é justo
mas como pode em algo tão justo
justo tanta injustiça haver
é justo.

sábado, 12 de julho de 2014

Os Sete





No dia 5 de Julho de 1982 eu me encontrava inconsolável sem saber o que havia passado e qual seria a explicação para os 3 a 2 da Itália contra nós. Aquele foi o último jogo da primeira Copa do Mundo da qual tenho recordação, e ainda me lembro de como me senti depois de uma derrota inacreditável para mim.

Nunca mais, mesmo com a pouca idade de então, esqueci-me da terrível falha de Toninho Cerezo que ajudou nesta derrota e durante muitos anos não o perdoei. Para a menina que eu era, o volante da minha imbatível seleção foi, sem qualquer sombra de dúvida, o grande culpado por algo que não poderia jamais ter acontecido. Afinal, a minha seleção perfeita de Sócrates e Zico não deveria perder para ninguém, e eu chorei naquele dia pela decepção da inexplicável derrota injusta e cruel.

No último dia 8 de Julho não houve lágrimas minhas, pois a derrota desta vez foi de outra monta: contraditoriamente compreensível, apesar de inexplicável e vergonhosa, para quem entende um pouco do pouco profissional e parcamente sério futebol que temos atualmente por aqui. Andamos há tempos a assistir campeonatos nacionais com jogos medíocres porque desperdiçamos muitos de nossos talentos, e porque não temos competência para competir com os verdadeiros mercados da bola e perdemos os nossos craques ainda nas fraldas para a Europa e seus vizinhos.

Sem identidade, sem um bom futebol praticado em casa, a grande maioria já assistia, desde o princípio, aos jogos da seleção com certo pé-atrás. Vencer a Copa seria mais uma questão de sorte que de competência, porém, até poderia acontecer. Entretanto, mesmo com a falta de organização e seriedade com as quais temos levado o nosso futebol, os piedosos 7 a 1 da equipe alemã contra a Canarinha são mesmo uma surra difícil de imaginar até em sonho. E lá no futuro, seguramente, serão estes 7 gols alemães tudo o que lembraremos do nosso desempenho na Copa no Brasil.

Hoje, agora enquanto escrevo, perdemos de 2 a 0 para a Holanda na disputa de um terceiro lugar que não interessa a quase ninguém. Não está nada fácil a nossa vida, não mesmo! E espero que tantos gols tomados nesse campeonato sirvam para começarmos a refletir na forma como as coisas são levadas aqui no país que já foi “o país do futebol”.


Eu, que agora entendo muito mais do que entendia da vida em 1982, não consegui chorar nossa derrota mais do que anunciada. Doeu-me, isso sim, ver aos meninos e meninas de 2014 chorando copiosamente em campo enquanto viam, um após o outro, 7 gols sendo marcados contra a seleção perfeita deles. E, diante disso, chego quase a agradecer a Deus pelos 3  gols de Paolo Rossi. 


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Carrossel


Preso o cavalo de madeira roda feito pião no mesmo lugar

escravo d’um movimento que o traga; seu vício.

Ele quer fugir...

                            ... Ele deve fugir...

... Ele não pode fugir...

               ... Ele não quer fugir.

Pernas presas por sua própria vontade alheia às dores

que sua linda jaula sem grades provoca-lhe.

A ideia de fugir dali arranca-lhe os cascos a sangue frio,

e o ficar dilacera o seu peito de cavalo encantado pela melodia do Carrossel.

Por sua alma de madeira faltam-lhe as lágrimas;

vida que aos olhos dos outros está morta.

E toda a gente ignora que o calado cavalo que roda

calado sofre.




terça-feira, 1 de julho de 2014

Desejo de Menina



Minha mãe conta que quando criança eu afirmava, cheia da confiança e da tranquilidade tão comuns aos piamente crentes em suas capacidades, que quando eu crescesse seria uma cientista. Não que eu amasse as ciências, nunca me interessei muito por elas. A verdade é que esta era a maneira mais prática por mim imaginada para resolver o maior dos problemas, a única coisa que poderia me assombrar. Eu seria cientista, e como tal inventaria uma pílula que não deixaria ninguém morrer. Assim, sem motivos para medos, resolvia-se feito passe de mágica o maior dos medos de toda criança por mim – a morte de dos pais.

Os medos de criança passam, e isso dá-nos pena quando somos adultos porque então também somem as mágicas soluções. Os meus medos incluíam uma eminente guerra atômica, a perda dos meus pais e a possibilidade de um dia topar de frente com um urso ou um leão (apesar de saber que leões e ursos em São Paulo eram vistos apenas no zoológico. Vai entender?!). Por motivos que desconheço, talvez por uma criação cheia de amor e liberdade para brincar ou porque sempre foi característica minha sentir-me segura e certa sobre tudo que penso, (defeito e/ou qualidade que persiste até os dias de hoje), para todas estas mazelas havia uma solução por mim pensada e repensada, tida como certa e infalível. E sem mais nem menos, eu cresci tranquila e feliz.

Depois, durante um bom tempo da vida não há muito tempo para medos. Chega a adolescência e há tanto a sentir, a descobrir; tanto a fazer que não nos sobra tempo para pensarmos muito nos outros. E pela vida vamos esquecendo um pouco de nossos pais, esquecemos a família, esquecemos os medos e queremos simples e unicamente viver tudo. Somos os malandros que sabem de tudo e querem tudo. Tudo e muito mais.

Pois, não é que Deus, o mais sábio dos malandros, fez o Mundo redondo em tom de ironia e de propósito. E por sua redondeza não há como evitar: o Mundo dá voltas e nós nele somos levados, meio que por acaso e um pouco a contra gosto, para o ponto de partida.

E nesse ponto da vida, no momento em que vemos tudo o que passou de frente, entendemos que a infância não está tão distante de nós como parecia. De repente, não mais do que de repente como nos ensina o poeta, queremos mesmo é ser criança e poder voltar pra casa dos pais. Queremos ter colo todo santo dia, ver a mãe da gente a preparar-nos o café da manhã e o pai, dono de toda a autoridade do Mundo, a dizer-nos não. “Não porque não e ponto final.”, assim o meu pai dizia em alto e bom tom.

Pois 2, eu, por aqui, ando com uma saudade avassaladora das minhas soluções e certezas de menina porque o tempo passou, e porque hoje eu sei que não há pílula no mundo que evite a morte. Não há como para-la. E sinto pena, pena de mim, de todos nós que não temos mais as mágicas soluções de meninos e meninas à mão. Agora, menos do que na infância, e muito menos ainda do que na adolescia sinto-me pronta para a perda de meus pais, dos velhos tios, de alguns amigos. Por estes dias o que eu mais queria era poder ser cientista mais uma vez, uma cientista capaz de inventar tudo o que o coração mandar.