sábado, 12 de julho de 2014

Os Sete





No dia 5 de Julho de 1982 eu me encontrava inconsolável sem saber o que havia passado e qual seria a explicação para os 3 a 2 da Itália contra nós. Aquele foi o último jogo da primeira Copa do Mundo da qual tenho recordação, e ainda me lembro de como me senti depois de uma derrota inacreditável para mim.

Nunca mais, mesmo com a pouca idade de então, esqueci-me da terrível falha de Toninho Cerezo que ajudou nesta derrota e durante muitos anos não o perdoei. Para a menina que eu era, o volante da minha imbatível seleção foi, sem qualquer sombra de dúvida, o grande culpado por algo que não poderia jamais ter acontecido. Afinal, a minha seleção perfeita de Sócrates e Zico não deveria perder para ninguém, e eu chorei naquele dia pela decepção da inexplicável derrota injusta e cruel.

No último dia 8 de Julho não houve lágrimas minhas, pois a derrota desta vez foi de outra monta: contraditoriamente compreensível, apesar de inexplicável e vergonhosa, para quem entende um pouco do pouco profissional e parcamente sério futebol que temos atualmente por aqui. Andamos há tempos a assistir campeonatos nacionais com jogos medíocres porque desperdiçamos muitos de nossos talentos, e porque não temos competência para competir com os verdadeiros mercados da bola e perdemos os nossos craques ainda nas fraldas para a Europa e seus vizinhos.

Sem identidade, sem um bom futebol praticado em casa, a grande maioria já assistia, desde o princípio, aos jogos da seleção com certo pé-atrás. Vencer a Copa seria mais uma questão de sorte que de competência, porém, até poderia acontecer. Entretanto, mesmo com a falta de organização e seriedade com as quais temos levado o nosso futebol, os piedosos 7 a 1 da equipe alemã contra a Canarinha são mesmo uma surra difícil de imaginar até em sonho. E lá no futuro, seguramente, serão estes 7 gols alemães tudo o que lembraremos do nosso desempenho na Copa no Brasil.

Hoje, agora enquanto escrevo, perdemos de 2 a 0 para a Holanda na disputa de um terceiro lugar que não interessa a quase ninguém. Não está nada fácil a nossa vida, não mesmo! E espero que tantos gols tomados nesse campeonato sirvam para começarmos a refletir na forma como as coisas são levadas aqui no país que já foi “o país do futebol”.


Eu, que agora entendo muito mais do que entendia da vida em 1982, não consegui chorar nossa derrota mais do que anunciada. Doeu-me, isso sim, ver aos meninos e meninas de 2014 chorando copiosamente em campo enquanto viam, um após o outro, 7 gols sendo marcados contra a seleção perfeita deles. E, diante disso, chego quase a agradecer a Deus pelos 3  gols de Paolo Rossi. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário