domingo, 27 de dezembro de 2015

Deslembranças de Menino



Deslembranças de Menino

O menino me disse que ele se deslembrou,
amuado e inconformado com o fato
de que aquilo que estava no fundo da sua cuca
e na ponta da sua língua,
aquilo de extrema importância e que ia me contar, havia sumido.
O bicho lhe escapulira, passarinho de ágeis asas,
água de riacho fluida,
bolha de sabão que some quando nós fechamos as mãos.
E eu, ignorante das regras que explicam a criação
de toda língua que respira, sorri e corrigi: Você se esqueceu, Dieguito.
Não madrinha! (explicou-me o menino pequeno,
loiro e cheio de razão, que sabia muito bem o que queria dizer
e não carecia de ajuda ou explicação)
Eu sabia o que ia dizer, mas eu não sei mais.
Eu deslembrei.
Muito provavelmente o meu miúdo não se lembre mais deste momento,
já que vida de menino é cheia de acontecimentos
e algo assim tão pequeno
deve mesmo ter caído em total deslembramento.
Fica então, apenas para mim a lembrança
do tal momento
do nascimento de algo novo, a nossa capacidade 
para deslembrar.

A Nossa Casa



Casa


Lá fora é selva, a sós entre luz e trevas
Noiz presos nessas fases de guerra, medo e monstros
Tipo "Jogos Vorazes"

É pau, é pedra, é míssil
E crer é cada vez mais difícil
Entende um negócio, nunca foi fácil
Solo não dócil, esperança fóssíl

O samba deu conselhos, ouça
Jacaré que dorme vira bolsa
Amor, eu disse no começo
É quem tem valor versus quem tem preço

Segue teu instinto
Que ainda é Deus e o Diabo na terra do Sol
Onde a felicidade se pisca, é isca
E a realidade trisca, anzol
Corre!

O céu é meu pai, a terra mamãe
O mundo inteiro é tipo a minha casa
O céu é meu pai, a terra mamãe
O mundo inteiro é tipo a minha casa

Aos 15 o Saara na ampulheta
Aos 30 tempo é treta
Rápido como um cometa
Hoje a fé numa gaiola
O sonho na gaveta

Foi pelo riso delas que vim
No memo camin' por nóiz
Tipo Mágico de Oz
Meu coração é tamborim

Tem voz? Sim
Ainda bate veloz
Entre drones e almas
Flores e sorte
Se não me matou, me fez forte

É o caos como cais
Sem norte, venci de teimoso
Zombando da morte

Sem amor, um casa é só moradia
De afeto vazia, tijolo e teto, fria
Sobre chances, é bom vê-las
Às vez se perde o telhado pra ganhar as estrelas
Tendeu?

O céu é meu pai, a terra mamãe
O mundo inteiro é tipo a minha casa
O céu é meu pai, a terra mamãe
O mundo inteiro é tipo a minha casa

Ah! A gente já se acostumou
Que alegria pode ser breve
Mostre um sorriso, tenha juízo
A inveja tem sono leve

Na espreita pesadelos são
Como desfiladeiros, chão em brasa
Nunca se esqueça o caminho de casa

O céu é meu pai, a terra mamãe
O mundo inteiro é tipo a minha casa
O céu é meu pai, a terra mamãe
O mundo inteiro é tipo a minha casa

Salve Jardim Corisco, Cachoeira, Jardim Fontalis,Furnas,
Jardim Joamar, Pão de Mel, Jaçanã, Nova Galvão, Jardim Felicidade
12, Barrocada, Jardim das Pedras, Vila Rica
Tamo junto, a rua é nóiz!



EMICIDA

domingo, 20 de dezembro de 2015

O Nosso Impedimento



O Nosso Impedimento

Por algum motivo que me escapa, e ainda não sei se por estrema inocência ou por grande esperteza minha, o Brasil anda a dividir-se entre duas metades: aqueles que apoiam a Presidente da República, Sra. Dilma Rousseff, e aqueles que apoiam a saída da dita senhora da Presidência da República o quanto antes e clamam pelo tal do Impeachment. Escapa-me a motivação para tanta discussão já que para mim a questão é muito simples. Não há quem apoiar ou por quem lutar nesta Brasília de Cunhas, Rousseffs e Calheiros, pois, como cantou muito bem o malandro e safo Bezerra da Silva, “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão!”.

É verdade que a falta de caráter geral daqueles que nos governam contribui para que a confusão se instale. Por um lado, como apoiar um Impeachment usado como moeda de troca, chantagem da grossa, pelo Excelentíssimo Senhor Eduardo Cunha? Pois, não há como unir forças com um homem desses, certo? Seria o mesmo que encarnar o Anakin Skywalker e aliar-se ao lado Dark da Força. Muito feio isso, não?

Por outro lado, crer que a Excelentíssima Presidente da República e o Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio da Silva estão incólumes nos escândalos de corrupção/roubo do dinheiro público que envolvem o país inteiro, (de Mensalão a Petrolão, dos Correios aos Fundos de Pensões, e diversos outros roubos escandalosos que formam uma lista longa que só), é a mesma coisa que crer no Coelhinho da Páscoa  e no bom Velhinho Noel. Não dá, não é?

E, por favor, acreditar que o tal Impeachment é um golpe das elites brasileiras para tirar do governo um partido e uma presidente que lutam pelo povo é o mesmo que acreditar na lengalenga old school de Chaves e Maduro a culpar os temidos Yankees por toda e qualquer desgraça que assola a Venezuela.  É verdade que os Americanos são uma praga a se meter na vida de todo Mundo há anos, entretanto, não foram eles que quebraram a Venezuela. Isso os governos Chaves e Maduro fizeram sozinhos. Aliás, assim como a desastrosa e nada hábil Presidente da nossa República Federativa do Brasil, em seus dois mandatos, está a quebrar o Brasil.

É verdade que a elite brasileira, assim como toda a elite deste planeta, detesta dividir seu espaço com as classes menos favorecidas; e isso é um fato. Contudo, alguém realmente acredita que as elites brasileiras não foram, e são, profundamente favorecidas durante todos os anos dos governos do PT? Afinal, por que será que vemos banqueiros, pecuaristas, doleiros, empreiteiros e outros tantos homens e mulheres muito ricos na cadeia hoje em dia? Não são eles os verdadeiros “companheiros” de Lula? Eu creio que sim.


Eu, por meu lado, importo-me pouco se o tal Impeachment sairá ou não, pois acredito que com ou sem ele não teremos a Senhora Dilma por muito tempo à frente de nosso País, e anda a faltar pouco para vermos a mão do próprio PT a puxar, com força, o tapete de Dilminha. Importa-me muito, isso sim, compreender este Nosso Impedimento de perceber que não há fins que justifiquem quaisquer meios sujos. O lugar de quem rouba dinheiro, principalmente de quem rouba muito, mas muito dinheiro público é na cadeia e não no Congresso, no Palácio ou em qualquer Ministério que seja; e ponto final.


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Nado



Nado com o ventre colado ao fundo do mar

e os olhos postos no chão,

fechados.

Um oceano e todos os seus mares de água

a pesar sobre meus ombros, e o nariz sente,

enojado, o lodo dos fundos escuros a tocar-lhe;

sufoco.

O cheiro de tudo que morre; que morreu há tempos está aqui

e me acompanha. Envolve-me e penetra pela pele, pela carne

e pelos ossos; e viva estou

úmida e

morta.

Do sol e de sua luz restam-me apenas parvas lembranças,

lembranças dos dias iluminados e coloridos vividos antes do mergulho...

Antes de eu perde-me em mim mesma, de mim mesma,

e nadar, inebriada, em direção ao fundo

pacífico, silencioso e final.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Para Ti




Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto


No livro “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”

domingo, 6 de dezembro de 2015

Dezembro



Dezembro

Eu planejei passar o Natal e a chegada do novo ano com meus pais; com minha mãe. Deus tinha outros planos e minha mãe não está mais aqui. Fim dos meus planos para um Dezembro ideal sem delongas e ponto final. Pois, como sempre ocorre com o que segue sem o nosso desejo, tais planos celestiais não estavam abertos à discussão e Deus, e nem ninguém mais, queria saber qual era a minha opinião, ou qual a opinião de todos que amavam a minha Mi.

Minha mãe partiu para o tal Além-mar divino tranquilamente. Apesar de não ter gostado muito da tal decisão divina; eu devo admitir que não há nada melhor, hoje para mim, do que a certeza de que para a minha mãe não existe mais qualquer sofrer. Seu sofrimento me desesperava e, se agora ela está bem, não me importa que ela esteja tão longe daqui. Tudo está melhor para mim também.

Todo final de ano eu faço planos. Todos nós fazemos planos para o ano que se iniciará, e isso é fundamental porque ter objetivos é o que nos move nesta vida. Sempre devemos querer mais e devemos criar, da maneira que mais nos agrada, o tal caminho a seguir. Eu, cá comigo, já estou a fazer planos para os próximos dois ou três anos. O Mundo é grande demais para estarmos acomodados e, apesar de termos muito tempo, não teremos jamais todo o tempo que gostaríamos de ter para tudo.

Pois, viver é aproveitar o momento e ter planos futuros. Entretanto, não podemos nos esquecer de que não somos os únicos autores desta estória e de que ela não será exatamente como nós gostaríamos que ela fosse por muitas e muitas vezes. Levamos a vida, mas ela também nos leva e temos que aprender a aceitar o não planejado como o certo. Como aquilo que tinha que ser.

Eu sei que, às vezes, demora muito para aceitarmos aquilo que não queremos. Afinal, seria tão bom se a vida fosse exatamente como nós a imaginamos. Seria fenomenal! Contudo, como personagens, nós desconhecemos aonde a tal trama vai nos levar e, por isso, demora um bom pedaço de tempo para compreendermos os porquês desta vida que Deus nos deu. Então, o negócio é aproveitar o tal enredo da melhor maneira possível e guardar um punhado do tempo que nos é dado para os pequenos momentos poéticos que valem por uma vida inteira. Momentos lindos, eternos e inesquecíveis que guardamos, feito objetos de estimação, para sempre.

Emicida - Mufete



Rangel, Viana, Golfo, Cazenga pois
Marçal, Sambizanga, Calemba 2

One luv, amor pu ceis
Djavan me disse uma vez
Que a terra cantaria ao tocar meus pés
Tanta alegria fez brilhar minha tês
Arte é fazer parte, não ser dono
Nobreza mora em nóiz, não num trono
Logo somos reis e rainhas, somos
Mesmo entre leis mesquinhas vamos
Gente só é feliz
Quem realmente sabe, que a África não é um país
Esquece o que o livro diz, ele mente
Ligue a pele preta a um riso contente
Respeito sua fé, sua cruz
Mas temos duzentos e cinquenta e seis odus
Todos feitos de sombra e luz, bela
Sensíveis como a luz das velas
(tendeu?)

Rangel, Viana, Golfo, Cazenga pois
Marçal, Sambizanga, Calemba 2

Tá na cintura das mina de Cabo Verde
E nos olhares do povo em Luanda
Nem em sonho eu ia saber que
Cada lugar que eu pisasse daria um samba
Numa realidade que mói
Junta com uma saudade que é mansinha mais dói
Tanta desigualdade, a favela os boy
Atrás de um salário uma pá de super herói
Louco tantos Orfeus, trancados
Nos contrato de quem criou o pecado
Dorme igual flor num gramado
E um vira lata magrinho de aliado
Brusco pick o cantar de pneus
Dizem que o diabo veio nos barcos dos europeus
Desde então o povo esqueceu
Que entre os meus todo mundo era deus

Rangel, Viana, Golfo, Cazenga pois

Marçal, Sambizanga, Calemba 2


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

João (parte 1)



João

Assim que dobrou a esquina, João percebeu que havia algo de errado. Apesar de não conseguir distinguir o que lhe causava aquele estranhamento, ele sabia que alguma coisa estava fora do lugar. Mais do que um fato, um sentimento o atingiu e, por isso, ele diminui o passo na avenida abafada no centro da cidade.

Esquecera a carteira, talvez. Buscou-a na mochila cinza que ele carregava, displicente, no ombro direito. Não. Ele não tinha esquecido a carteira, nem o telefone, nem mesmo seu caderno de anotações. João gostava de escrever. Escrever era uma terapia e, papel e caneta estavam sempre à mão. Caderno azul e caneta preta.

O que era aquele sentimento então? Bobeira, pensou. Continuou seu caminho em direção do trabalho na rádio e tudo lhe parecia normal. As pessoas caminhavam apressadas, os carros abarrotavam as ruas, fazia muito frio num dia cinza de inverno e a manhã passava rotineiramente. Chovera muito na noite anterior e ainda agora ele podia sentir a umidade nos ossos. Que dia gelado, pensou.

João já descia as escadas do Metrô quando ele se lembrou: Hoje é dia 27, é isso. Por onde andará a Ana? Há mais de um ano não nos falamos, e já se foram tantos anos depois daquele maio. Ana...
Um homem esbarra em João e lhe interrompe os pensamentos. João balança a cabeça jogando para fora as tais bobeiras e continua seu caminho. O dia será cheio e ele não acha qualquer razão para se lembrar da Ana. Esta é uma estória que já acabou há algum tempo; há um bom tempo. A vida é outra e há outras coisas a fazer, outras pessoas.

O trem chega à estação, lotado, e João suspira resignado. Não há o que fazer, ele precisa estar na rádio em meia hora. O homem se espreme entre tantas pessoas num pequeno espaço, encostado ao lado da porta no final do último vagão. A porta se fecha e o trem sai.


João olha distraído para frente e seus olhos se impressionam. Alguns metros à frente, sentada num banco a ler, está Ana. Os cabelos mais curtos, ela está menos magra, talvez; com um vestido de inverno que João nunca havia visto. Ana...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Poeta


O Poeta

O poeta de pernas bambas samba, desengonçado,
no meio da praça com seus pés desobedientes;
donos de si.
Sem saber o que fazer com seus poemas e com suas palavras
depois de partido o peito.
O poeta subiu as ladeiras para tentar encontrar qualquer resposta;
mesmo as não verdadeiras, no fundo dos copos, no meio das conversas
dos amigos, em braços, bocas e pernas alheias.
Pobre poeta afogou-se, desapercebidamente e por vontade própria, em seus próprios
sentimentos criativos e inspiradores até,
contraditoriamente,
ver-se secar por dentro. Nada mais sai dele; há nele.
Sem poemas, sem versos, sem palavras ou letras,
sem sonhos e paixões infinitas, o poeta errante deixou suas mãos de lado,
calou-as com um soco, de um susto. Pois, depois de tão grande e profunda crença,
viu minguar sua alma de poeta e todas as flores que o acompanharam pelo
caminho.
Mudo, ele segue esquecido de si próprio no meio da praça
a deixar de ser quem ele verdadeiramente é; a esquecer-se.
Deixando-se levar por seus pés que nada sentem ou sabem dizer
no seu parvo balé
solo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Emicida - Boa Esperança (A Revolução)




Boa Esperança
Emicida
 
Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o xis da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, Jão!
Bomba relógio prestes a estourar

O tempero do mar foi lágrima de preto
Papo reto como esqueletos de outro dialeto
Só desafeto, vida de inseto, imundo
Indenização? Fama de vagabundo
Nação sem teto, Angola, Keto, Congo, Soweto
A cor de Eto'o, maioria nos gueto
Monstro sequestro, capta-tês, rapta
Violência se adapta, um dia ela volta pu cêis
Tipo campos de concentração, prantos em vão
Quis vida digna, estigma, indignação
O trabalho liberta (ou não)
Com essa frase quase que os nazi, varre os judeu – extinção

Depressão no convés
Há quanto tempo nóiz se fode e tem que rir depois
Pique Jack-ass, mistério tipo lago Ness
Sério és, tema da faculdade em que não pode por os pés
Vocês sabem, eu sei
Que até Bin Laden é made in USA
Tempo doido onde a KKK, veste Obey (é quente memo)
Pode olhar num falei?

Aê, nessa equação, chata, polícia mata – Plow!
Médico salva? Não!
Por quê? Cor de ladrão
Desacato, invenção, maldosa intenção
Cabulosa inversão, jornal distorção
Meu sangue na mão dos radical cristão
Transcendental questão, não choca opinião
Silêncio e cara no chão, conhece?
Perseguição se esquece? Tanta agressão enlouquece
Vence o Datena com luto e audiência
Cura, baixa escolaridade com auto de resistência
Pois na era Cyber, cêis vai ler
Os livro que roubou nosso passado igual alzheimer, e vai ver
Que eu faço igual burkina faso
Nóiz quer ser dono do circo
Cansamos da vida de palhaço
É tipo Moisés e os Hebreus, pés no breu
Onde o inimigo é quem decide quando ofendeu
(Cê é loco meu!)
No veneno igual água e sódio (vai, vai, vai)
Vai vendo sem custódio
Aguarde cenas no próximo episódio
Cês diz que nosso pau é grande
Espera até ver nosso ódio

Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o xis da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, Jão

Bomba relógio prestes a estourar


domingo, 22 de novembro de 2015

Uma Carta para Ti



Uma carta para Ti

Ontem passamos teu primeiro aniversário sem ti, Mima. Estranho isso. Estranho não ter para quem dar o tal do Feliz Aniversário direito, não ter presente para comprar, não haver um bolo a fazer. Foi estranho como foi estranho o meu aniversário sem ti este ano. Como estranho será celebrar o Natal e ver o próximo ano chegar. A vida segue, claro, e estamos bem. Contudo há esta saudade doída e uma pequena tristeza que nos acompanha e que fala mais alto nos momentos nos quais estaríamos todos juntos.

Muita coisa aconteceu depois de você ter ido para o seu além-mar celestial; coisas bonitas e coisas horríveis. Toda vez que algo triste acontece me conforta o fato de você não estar aqui para vê-las e penso: ainda bem que a Mima não viu toda esta tristeza. As bonitas eu espero que você possa ver daí dando uma espichadela de olhos para cá. Ver, por exemplo, que a Vitória está crescendo linda, que o Nícolas está a cada dia mais falante e esperto, que o Papai vai bem apesar de ainda estar um tanto amuado. Ele tem se esforçado muito, mãe; muito mesmo. O Sérgio e eu estamos bem.

Sabe Mima, toda vez que rio alto me lembro de ti. Lembro-me da tua risada feliz e cheia e te imagino rindo muito aí. Imagino-te com a vovó Estela, com todos os meus avôs e seus irmãos e te sinto muito feliz. Apenas acho muito chato isso de não haver qualquer forma de te ouvir e ver. Faz-me muita falta a tua voz, e a melhor invenção do mundo, atualmente, seria um telefone ou uma internet que pudesse nos conectar. Se encontrar aí o senhor Steve Jobs, veja se ele não pode nos ajudar com muita inspiração, tá bom?


Mima, desculpa o meu atraso para te escrever. Queria ter escrito ontem, porém, não consegui. Contudo, tenha certeza de que me lembrei de ti o dia todo, desde o momento no qual abri meus olhos. Amo-te, mãe, e isso não mudará nunca e vale para cá e para o além. Feliz Aniversário Mima!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Tristeza



Tristeza


Beija-flor, sapo, salamandra, borboleta,
e toda a sua parentada,
do menor bicho possível até aquele que é grande que só,
andam amuados lá pelas bandas dos Gerais.
Ver peixe a fugir do rio na tentativa de respirar corta o coração
de todo o ser vivente sem
fazer falta a tal da racionalidade acadêmica ou científica
para qualquer explicação.
Nossa Terra foi ferida e de bicho a gente, tudo e todos,
viram com olhos arregalados e coração aflito o mundo sumir
sob a lama de um repente.
Um mar de lama suja, mar criado por homens ricos,
arrogantes e irresponsáveis (que se pensam importantes,
porque a riqueza dá às pessoas a falsa impressão de que nada tem mais importância
do que eles)
cobriu um mundão nas Gerais
e afogou o rio,
e roubou as casas
e levou a vida, numa enxurrada ignorante,
de um bom bocado de gente.

domingo, 15 de novembro de 2015

Poesia Para Dias Turvos



A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
E soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


De Carlos Drummond de Andrade 
Mineiro e antigo, atual e a retratar o homem do Mundo

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Tempo (5)



O Tempo

Meses, anos, dias, horas...
horas, dias, meses e, depois de uma pausa um pouco mais longa
dos olhos, serão anos.
Não sei se o tempo faz diferença, se algum dia,
depois que os anos já puderem ser contados às dezenas,
ele fará alguma diferença. Uma diferença qualquer.
Não sei.
Se a saudade é alimentada pela ausência e
se esta, por sua vez, amplia seus espaços com o tempo;
como poderá, um dia, todo o tempo passado fazer diferença?
Não sei.
Talvez, com o tempo,
horas
dias
meses
anos e suas dezenas
apenas aprendamos a fingir melhor, para nós mesmos,
não sentir
o que, independente de todo o tempo,
ainda sentimos do mesmo jeito
com nossos ponteiros de relógio imóveis.

domingo, 8 de novembro de 2015

O país dos calhordas


O país dos calhordas

Calhorda, no dicionário, significa: pessoa desprezível ou de baixo nível moral. Aqui no Brasil o vocábulo ganhou novos contornos e anda a ser um sinônimo mui utilizado para nomear os políticos que nos representam. No Brasil político é sinônimo de calhorda. É verdade que não é bem assim, e que boa parte da classe política deste país está cheia de boas intenções, apesar de agir muito pouco em sua maioria. Contudo, não há como negar que estamos metidos numa espécie de show de horrores no que diz respeito aos que nos governam, pois, não precisamos prestar muita atenção para percebermos que temos, espalhados por todos os antros e cargos públicos desta Nação, ladrões de carreira, evangélicos retrógrados de carteirinha, mentirosos contumazes, corruptos crônicos, prevaricadores, chupins com pouca massa cinzenta e os oportunistas anjos-do-pau-oco de costume.

Por estes dias, o Cara-de-Pau bola da vez, o Sr. Eduardo Cunha, deu uma entrevista para padre ver, (no caso dele pastor evangélico), a demonstrar com sua conversinha para boi dormir que ele nunca fez nadica de nada errado na vida. E, à la Maluf, explicou que nunca mentiu sobre não ter o dinheiro no exterior que ele deveras tem. Todo santo-empresário-do-bem, Cunha explicou que tanto dinheiro foi ganho com a venda de carne e outros alimentos ao Congo, apesar de não haver como prová-lo já que isso ocorreu no século passado e a tal empresa não existe mais. E que é natural que ele não possa explicar parte do dinheiro “em seu nome”, pois, e de fato, ele não sabe direito de onde veem os US$ 1,3 milhões em depósitos feitos em suas contas, que não são suas; porque ele, Cunha, não as administra e é, apenas, aquele que pode usufruir do dinheiro todo.

A primeira pergunta que me vem à cabeça, depois de ouvir a entrevista, é por que será que na minha conta, aqui no Brasil mesmo, nunca nenhum dinheiro jamais foi depositado por milagre sem que eu soubesse de onde vinha? E sinto-me tão pobre que acho que o certo, atualmente, é criarmos algumas novas classes para descrever os tipos de gentes aqui no Brasil, porque isso de classe A B C e D não dá mais conta da disparidade de dinheiro que existe entre quem trabalha e produz algo e aqueles que governam este país. Acho que devemos deixar a timidez de lado e irmos, sem qualquer pudor, até o Z, não?

A segunda pergunta que me vem à cabeça, na atual conjuntura, é: ainda é feio e pecado darmos uns bons tapas na cara dos políticos em meu país ou isso já começa a ser visto como um ato honrado? Pergunto porque o limite de indignação anda a níveis estratosféricos e a paciência, pelo menos a minha e a de muita gente que eu conheço, já acabou faz um par de anos; pelo menos.


Chistes à parte, a verdade é que andamos a afundar o país na merda mais uma vez, infelizmente, e que isso é algo muito ruim para todos nós. Pois nós, os brasileiros de pouco dinheiro, vivemos num país violento, injusto e sem infra-estrutura que reserva aos seus cidadãos com pouca grana uma vida, no mínimo, difícil. Claro é que o senhor Cunha não é o único, ele é apenas um de um bando cruel que nos assalta há anos. Porém, o mais importante é lembrarmos que somos nós os que damos a eles o poder e os cargos dos quais agora tiram todo o proveito possível. Então, mesmo que demore um pouco, e se começarmos a prestar mais e mais atenção em tudo que se passa por aqui, nas urnas poderemos retirar toda essa gente podre que grassa e desgraça no Planalto Central e adjacências.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O Último Poema





O que dizer de um filme que me fez chorar assim que iniciou seu trailer?



Caixas de lenços serão necessárias na sala de cinema.

                                                   Um filme feito para quem ama a poesia e as palavras

Cartas, uma paixão sem tempo nem espaço definido e, portanto, eterna.

                    Drummond, um homem que eu deveria ter conhecido.


terça-feira, 3 de novembro de 2015

Últimos



Últimos

O último dia acontece como se nada fosse,
sem avisos,
e como um outro dia qualquer.
Tão trivial como qualquer outro, disfarçado em dia comum,
convida-nos ao engano de achar que ainda temos tempo;
que ainda nos sobra muito tempo.
As últimas horas acontecem como se nada fossem,
silenciosas.
Sem sinais claros de que já não haverá dias ou noites a velar,
fazemos planos tolos para os próximos meses,
para esta semana,
para a tarde que mal começara.
Horas pardas passadas como tantas horas às quais não damos atenção
e que fluem como brisa,
livres
ligeiras
profanas.
Os últimos minutos chegam e não os notamos. Eu não
percebi;
e apenas agora compreendo o quanto ainda não vejo.
Faltou-me a calma e a delicadeza
dos que reconhecem mais claramente o escorrer do tempo
por entre os dedos.
E os últimos minutos passaram despercebidos e velozes para serem lembrados,
por mim,
por todos os anos. Pela vida inteira.

sábado, 31 de outubro de 2015

2015


2015


O ano de 2015 resolveu ser uma vertigem. Assim tem sido este ano no qual tudo parece querer acontecer de um repente e sem muitos rodeios. A característica destes 365 dias que ainda não findaram tem sido a velocidade; a sua característica camaleônica para a mudança instantânea. Meu mundo, neste ano, já mudou algumas vezes e me sinto, nalguns dias, como se tivesse numa montanha-russa moderna: a ver o mundo de ponta cabeça.

Não posso dizer que tenha sido um ano ruim, ou um ano pior do que os outros, já que nele coisas muito boas, excelentes, e outras, as ruins, (aquelas para as quais não temos vontade alguma e rezamos para que elas aconteçam apenas bem longe de nós), aconteceram de maneira equilibrada. Ganhamos a Vitória e perdemos a minha Mãe. Vi como o mundo é lindo na companhia de meus pais, de meus sobrinhos e afilhados, e coisas horríveis pela televisão. Despedi-me do amor desta vida e vejo o amor dar seus primeiros passos nas vidas dos meus miúdos. Pois, nada do tédio e da mesmice dos anos que passam sem deixar marcas para o tal do 2015, que este ano, sem muito aviso, veio para não ser esquecido jamais.

“C’est la vie!”, e contra a vida não podemos lutar, não devemos fazê-lo. Devemos é compreender que por mais que queiramos controlá-la, por mais que achemos que somos donos de nossos narizes e que teremos nossas vidas em nossas mãos, nunca o faremos por completo. A vida é mudança e movimento; sempre.  E sem mudança não haveria graça alguma em estar vivo. Não haveria perdas, é certo, mas nem ganhos, não teríamos com o que sonhar e nem pelo que lutar.  Sem saber que tudo acaba, e acaba definitivamente, nada teria para nós o valor imenso que tem. Somos efêmeros, como é tudo aquilo que nos cerca e que fazemos, e por isso, o certo não é lutar contra a vida, mas aproveitá-la da melhor maneira que sabemos e podemos.


É verdade que as mudanças, vez ou outra, deixam-nos zonzos, e que tanto rir muito como chorar demais faz parte da estória. Porém, como já disse o outro, e eu mesma em outros momentos já plagiei: a promessa que temos é de que a vida pode ser bela, não fácil. Então, que venham mais anos, como o maluco ano de 2015, cheio de novidades.




quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Manhãs


Manhãs

Chegamos às manhãs mansas e mornas
que cheiram à saliva e afeto, por fim.
Querendo que elas fossem mais verdadeiras e duradouras
e que pudéssemos ainda crê-las reais.
Mais sábios e menos felizes por termos já adquirido
a razão que nos sussurra, leve e irônica ao ouvido,
que manhãs eternas não existem. Nunca existiram.
Evitamos abrir nossos olhos de um repente para,
em meio a meia consciência dos que ainda não acordaram por completo,
ainda sermos capazes de crer.
Com pena constatamos que abrem-se os olhos,
sozinhos,
por força do hábito.
Porém, sempre haverá lábios, mãos e pernas que ainda creem
na possibilidade das manhãs sem fim;
manhãs doces,
iluminadas,
únicas e
certas.
E esta será sempre a salvação de toda a humanidade:
a beleza de ainda haver gente
a crer que uma manhã poderá se alongar por um tempo infinito.
Indefinido.
Chegamos, às manhãs, mansos e mornos,
cheirando à saliva
e afeto.

domingo, 25 de outubro de 2015

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Não sei quantas almas tenho (Fernando, o Pessoa)

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"

Deus sabe, porque o escreveu. 



domingo, 18 de outubro de 2015

A Paixão Rotunda


A Paixão Rotunda

Não, nenhum time de futebol é mais importante do que as coisas mais importantes da vida. A família, os grandes amigos, a carreira e muito mais, sempre que paramos e pensamos a sério sobre a questão, veem primeiro, não? Sim, estas coisas veem primeiro. Porém veem sem uma afirmativa categórica e final em meio a um muxoxo. Veem, né?!

Não há o que discutir sobre isso, contudo, não há como discutir também, e da mesmíssima maneira, a grande paixão que acompanha o futebol. Ter um time do coração é ter um amor eterno e desinteressado, algo próprio das almas inocentes que creem em heróis e milagres, e que nos acompanha desde a infância. É sentir uma paixão rotunda e perfeita como a bola que não necessita lógica ou explicação. Algo que se compreende automática e plenamente com a expressão: é o meu time de coração.

Pois que o coração bate mais rápido apenas por um time só. Sempre. E torna-se difícil assistir impavidamente a uma partida qualquer deste time que em nossa alma se sobrepõe a tal da seleção nacional sem qualquer sombrinha de dúvida que seja. Gosto da Seleção Canarinha, claro, mas o Timão é o Timão e ponto final.  E com ele há a ansiedade, há o desejo de chutar a bola, há a certeza de que os nossos olhos fazem toda a diferença no final da contenda e que, por isso, não podemos desgrudar-los da tela plana até o último segundo com pena de um castigo fatal; perder.


Domingo é dia de bola, e neste domingo mesmo com o placar a marcar 3 a 0 para mim, os nervos estavam à flor da pele. Não dá para não sentir o coração apressado e a garganta em nó. Faltam apenas 8 rodadas para o final deste Campeonato Nacional onde sou líder e, com um misto da soberba certeza de quem sente que tudo dará certo e do cuidado de quem sabe que nada está definido, começo a tecer a nova faixa na imaginação. Sim, assim como em 2012 na Libertadores e no Mundial, sinto que a Taça é nossa e que é apenas uma questão de dias, um mês e pouco, para o grito cá guardado sair enlouquecido pela boca afora. É Campeão! 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

The Weeknd (Tell Your Friends)



Tell Your Friends
The Weeknd

We are not the same I am too reckless
I'm not tryna go in that direction
These niggas they been doing too much flexing
And they're about to call the wrong attention
And I ain't got no patience, no more testing
I do shit how I want, don't need no blessing
Xo niggas ain't nothing to mess with
Nobody stopping us, oh no we're destined
And everybody around you is so basic
I'm never rocking white, I'm like a racist
I don't drink my liquor with a chasin'
And money is the only thing I'm chasin'
And some dope dimes on some coke lines
Give me head all night, cum four times
Baby girl just wanna smoke a pound
Do an ounce, get some dick
Tell her friends about it

Go tell your friends about it (About it)
Go tell your friends about it (About it)
Go tell them what you know, what you seen
How I roll, how I did it on the low
Go tell your friends about it (About it)
Go tell your friends about it (About it)
Go tell them what you know, what you seen
How I roll, how I be off that coke
Go tell your friends about it (About it)
Go tell your friends about it
I'm that nigga with the hair
Singing 'bout popping pills, fucking bitches
living life so trill

Last year I did all the politicin'
This year I'm all focused on the vision
I think these hoes deserve another fixing
I'm talking about the ones from the beginning
Don't believe the rumours bitch, I'm still a user
I'm still rocking camo and still roll with shooters
I'm a villain in my city, I just made another killing
I'mma spend it all on bitches
And everybody fuckin, everybody fucking
Pussy on the house, everybody fucking
And I miss my city man it's been a minute
M. I. A. a habit, Cali was the mission
Cruise through the west-end in my new Benz
I'm just tryna live life through a new lens
Driving by the streets I used to walk through
When I had no crib I guess you call that shit a miracle

Go tell your friends about it (About it)
Go tell your friends about it (About it)
Go tell them what you know, what you seen
How I roll, how I be on the low
Go tell your friends about it (About it)
Go tell your friends about it
I'm that nigga with the hair
Singing 'bout popping pills
fucking bitches, living life so trill

My cousin said I made it big and it's unusual
She tried to take a selfie at my grandma's funeral
Used to roam on Queen
now I sing Queen street anthems
Used to hate attention, now I pull up in that wagon
I was broken, I was broken, I was so broke
I used to roam around the town when I was homeless
Me and Lamar would rob a nigga for his Jordans
And flip it just to get these hoes another nose fix
Now we get faded, when we want girl, we got choices
Lay them on the fucking table, we got choices
And if they wanna fuck my niggas, they got choices
They told me not to fall in love, that shit is pointless
Yeah, that shit is pointless
They told me not to fall in love, that shit is pointless
Yeah, that shit is pointless
It's only meant to fall in love
That shit is pointless
Go tell your friends about it (about it)
Go tell your friends about it (about it)
Go tell them what you know, what you seen
How I roll, how I be off that coke
Go tell your friends about it (about it)
Go tell your friends about it
I'm that nigga with the hair
Singing 'bout popping pills
fucking bitches, living life so trill
Life so trill
Life so trill

Life so trill


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Andorinha


Andorinha

Como é duro ser
                              Andorinha
E ter o coração divido em partes
Espalhadas por tantos lugares
Norte
Sul
E muito além do mar
Pois mesmo dona de asas
A saudade sempre está
Do lado de lá
Onde eu não posso estar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A Coragem de Sentir




A Coragem de Sentir

Frida Kahlo me impressiona desde há muito tempo pela sua coragem e força. Ela é um acontecimento que ecoa até hoje, feito os Beatles e Gandhi, tal como Picasso, Chaplin ou Guevara; e gosto dela como se gosta dos gênios: com uma pontinha de inveja de sua grandiosidade. Procuro em mim um pouco de Frida Kahlo como quando menina, muito pequena e inocente, queria ter as qualidades de uma princesa ou da Mulher Maravilha. Frida é heroína, é modelo a ser seguido para grande parte das mulheres latinas e, quiçá, de outras praças mais distantes também.

Nunca quis ser pintora e mal sei desenhar flores e casinhas, coisa que não me importa. Pois, e apesar de gostar muito das obras da Senhora Kahlo e de saber de toda a sua importância na pintura e cultura latino-americana do século passado, o fato é que a admiro em demasia pela mulher que ela foi. Frida era corajosa e inteligente, aquela menina tinha toda a coragem necessária para abraçar seus sentimentos e, sem medos, deixá-los fluir. Frida não tinha medo de sentir e de expressar livre e claramente o que se passava dentro dela. Ela não tinha barreiras ou fronteira erguidas ao redor dela.

Por algum motivo que me foge, em nossa cultura, o pensar e o sentir tornaram-se opostos em algum momento. Amar profundamente a alguém ou ter os sentimentos vivos e à flor da pele, passou a ser um defeito feio; um aleijão o qual devemos esconder do mundo inteiro, um erro. Por quê, hein? Bem, claro é que não devemos depositar toda a nossa capacidade de felicidade na vida em alguém ou em qualquer coisa que seja. A vida não é assim. Ela não é apenas uma só, única e simples; nunca foi não senhor. A vida é complexa, confusa às vezes, e ela é tão melhor quanto maiores forem as ramificações que damos a ela. Isto é certo.

Entretanto, não podemos negar que há pessoas que nos fazem uma falta danada que só e que serão sempre únicas e essências. As nossas porções de grande felicidade instantânea e vital. Mãe, pai, amigos, os irmãos, filhos, sobrinhos e afilhados, os amores vividos, o homem de nossa vida... Como esquecer qualquer uma dessas pessoas ou não se sentir um pouco mais vazio quando uma delas não está aqui? Não dá. Então, apesar de tentar encarar tudo nesta vida da melhor maneira possível, e de saber que deverei continuar a viver e a aproveitar esta vida que me é dada. Apesar disso, também sei que não posso me permitir um meio sentir. Sentir as coisas com freios é tão sem razão de ser quanto descer um escorregador se agarrando nas bordas para evitar que a velocidade aumente. O bom é sentir o vento no rosto e ter a sensação de que estamos quase a voar, é soltar as mãos na montanha russa e gritar.

O bom é amar e deixar isso sempre muito claro, mesmo que do outro lado da conversa, do poema, do beijo ou do abraço a outra pessoa não esteja pronta ou disposta para um amor tão explicito como este. É, a vida não é perfeita, ela é boa, bonita e divertida. Contudo, o amor, mesmo o não tão perfeito ou correspondido, não é ou será feio ou ruim. Jamais. O amor é um bem-querer mais que, simplesmente, um querer toda santa vez. Amar profundamente as pessoas e todas as coisas desta vida não é um sinal de pouca inteligência ou de um vazio interior terrível. Antes, esta é uma capacidade dos que não têm medo e que já compreenderam que uma vida não foi feita para ser vivida sozinha.


“Amuralhar o próprio sofrimento é arriscar que ele te devore desde o interior.”

Frida Kahlo