quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Manhãs


Manhãs

Chegamos às manhãs mansas e mornas
que cheiram à saliva e afeto, por fim.
Querendo que elas fossem mais verdadeiras e duradouras
e que pudéssemos ainda crê-las reais.
Mais sábios e menos felizes por termos já adquirido
a razão que nos sussurra, leve e irônica ao ouvido,
que manhãs eternas não existem. Nunca existiram.
Evitamos abrir nossos olhos de um repente para,
em meio a meia consciência dos que ainda não acordaram por completo,
ainda sermos capazes de crer.
Com pena constatamos que abrem-se os olhos,
sozinhos,
por força do hábito.
Porém, sempre haverá lábios, mãos e pernas que ainda creem
na possibilidade das manhãs sem fim;
manhãs doces,
iluminadas,
únicas e
certas.
E esta será sempre a salvação de toda a humanidade:
a beleza de ainda haver gente
a crer que uma manhã poderá se alongar por um tempo infinito.
Indefinido.
Chegamos, às manhãs, mansos e mornos,
cheirando à saliva
e afeto.

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