domingo, 27 de dezembro de 2015

Deslembranças de Menino



Deslembranças de Menino

O menino me disse que ele se deslembrou,
amuado e inconformado com o fato
de que aquilo que estava no fundo da sua cuca
e na ponta da sua língua,
aquilo de extrema importância e que ia me contar, havia sumido.
O bicho lhe escapulira, passarinho de ágeis asas,
água de riacho fluida,
bolha de sabão que some quando nós fechamos as mãos.
E eu, ignorante das regras que explicam a criação
de toda língua que respira, sorri e corrigi: Você se esqueceu, Dieguito.
Não madrinha! (explicou-me o menino pequeno,
loiro e cheio de razão, que sabia muito bem o que queria dizer
e não carecia de ajuda ou explicação)
Eu sabia o que ia dizer, mas eu não sei mais.
Eu deslembrei.
Muito provavelmente o meu miúdo não se lembre mais deste momento,
já que vida de menino é cheia de acontecimentos
e algo assim tão pequeno
deve mesmo ter caído em total deslembramento.
Fica então, apenas para mim a lembrança
do tal momento
do nascimento de algo novo, a nossa capacidade 
para deslembrar.

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