quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Reza



Reza

Arruda é soldado verde, discreto e pequeno
que do seu canto, imóvel e cheio de encantos,
combate todo o mal que há nestas terras e além,
para o além delas.
Espada sagrada nas mãos das benzedeiras como Dona Antônia,
de mãos e cabelos muito alvos,
mulher doce que me acudia quando eu era pequena.
Rezava baixo uma reza misteriosa que aos meus ouvidos
soava tal língua estrangeira.
Mão esquerda  sobre a minha testa e galho miúdo de arruda a dançar no ar.
Mulher e planta unidas geravam força descomunal,
espantavam mau-olhado e maldição,
combatiam dor, praga e curavam toda e qualquer chaga
salvando, de uma só vez,  o corpo e a alma de toda a gente
que era capaz de crer naquilo que não se via.
Que não se vê.
Eu espantada, no colo de minha mãe sentada, buscava com meus olhos
de pouca idade a fonte de todo aquele poder inexplicável, divino,
vindo de mãos tão pequenas; as mãos de minha benzedeira.
Há dezenas de anos partiu Dona Antônia com suas ervas e rezas,
com sua voz serena.
Porém, nos dias claros e frescos nos quais o vento corre pelo mato e
as águas descem brincando pelos riachos,
eu ainda ouço a sussurrar aos meus ouvidos
a voz de reza misteriosa e curadeira a cantar;
está curada a pequena.

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