domingo, 8 de abril de 2018

A Caixa



A Caixa


Meu coração assustou-se uns tempos atrás,

susto de morte,

e por isso, ele escondeu-se numa caixa de madeira

negra e branca

que guardo, cuidadosamente, do lado  direito da estante no meu quarto.

Não foi ato covarde o dele, não senhores. Foi ato de sobrevivência;

de preservação da própria existência.

De lá, desde seu esconderijo frio, o dono

do reino dos sentimentos observa a vida como se à ela não pertencesse.

Faltam-lhe janelas, verdade.

Mas, mais seguro,

ele bate sereno sem os atropelos que os sucessivos sustos

da vida no meu peito lhe causavam.

E eu, de peito mais leve, um tanto vazio, sigo e não o culpo por ter,

de certa forma, me abandonado.

Apesar de sentir tantas saudades de meu companheiro,

eu sei tão bem quanto ele  que a vida tornou-se mais

simples assim:

com o coração exilado, guardado numa caixa de madeira ao meu lado.

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