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A poesia é uma cobra que morde o próprio rabo
A poesia é uma cobra que morde o próprio rabo
Que não tem, e jamais terá início, meio e fim
Porque simplesmente a poesia não é assim
Ela pode ser grandiosa ou tola
Pode ter rima ou não rimar uma palavra
E isso importa pouco agora
Mas um fim claro, e um começo bem marcado
Ah, isso a poesia não tem
Poesia é tal Maria-Sem-Vergonha, tal praga
Ela simplesmente brota, e aparece na nossa frente
Feito cobra
A serpentear-se sinuosa e insinuante 
Com a intenção de ficar por cá
Para sempre
Enfeitiçando a vida da gente
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Se houvesse talento
  uma colher dele que fosse
  e talvez tudo isso tivesse valido a pena
  tivessem tido, então, todas as palavras ditas e escritas
  algum valor verdadeiro
  algo que fosse algo mais do que a expressão
  egoísta de meus sentimentos
  Se houvesse talento
  gotas dele pelo menos
  e provavelmente teriam sido belas as alegrias e a melancolia
  mesmo que vividas sozinhas
  e as palavras, quiçá, merecessem   os sons
  das  bocas que pelo mundo caminham,
  e, quem sabe daí, algum dia
  alguma palavra minha merecesse
  o falar da boca daquele para o qual esta vida de palavras
  foi escrita.
  

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