sábado, 19 de novembro de 2011

A história de João e Valéria (parte 2)




A borboletinha pensava na vida há algum tempo, ali sentada no galho da pitangueira que naquela época do ano estava carregada de flores, mas ainda nem sombra da fruta alaranjada que, logo-logo, a coloriria. Valéria havia se perdido em seus pensamentos. Isso porque em toda cuca que se preza há um mundo de pensamentos escondidos, mesmo nas pequenas cabecitas das borboletas que pareciam cabeças de alfinetes com antenas. E nestes pensamentos compridos a pequena havia se perdido.
Tão distraída estava, que nem notou que bem perto dela, fazendo sombra sobre suas asas, estava João.  Por isso, quando ela ouviu aquele “Bom dia, borboleta!” dito de forma simpática e sorridente, não entendeu bem de onde vinha o tal som. De repente, olhando para cima, Valéria percebeu aquela enorme barriga laranja apoiada no galho perto do seu. “Meu Deus do céu!”, pensou ela e...
ZUUUMMMMMM... A borboleta saiu voando como uma louca, à moda dos foguetes que alcançam até a Lua, sem sequer responder ao cumprimento do João que, com a cara mais sem graça do mundo, não entendeu toda aquela pressa. E, querendo mesmo conversar com a pequena amarela, saiu a voar atrás dela.
Valéria já se imaginava amassada, geléia de borboleta, no meio daquele bicão do pássaro que voava atrás dela. A pequena voava como nunca havia voado antes, tamanha era a velocidade e tão ousadas eram as manobras radicais feitas por ela. Tão impressionante era a perseguição que abelhas, joaninhas e até mesmo as sempre-ocupadas formigas pararam para ver toda a ação.
Pobre dela, o coração de nossa amiga batia rápido, feito bateria de rock pesado, e parecia que ia saltar pela boca da miudinha quando suas asas começaram a fraquejar e uma dor espetada ganhou vida nas suas asas bem ali, bem perto das suas costas magrelas. Valéria não agüentava mais. Ainda fez muita força, tirou vontade de todo o seu corpo, até das canelas, mas suas asas não a obedeciam mais e, assim, a borboleta começou a girar e caiu.
Ela foi caindo em rodopio, de maneira lenta como caem as pipas coloridas nas tardes de verão; Valéria caiu em câmera lenta. Por isso, não se machucou muito não... Ufa, que bom para ela ser daquele jeito: tão magrela. Entretanto, tão cansada estava a menina borboleta que ela não conseguia erguer nem mesmo a mão. Caiu entre os pés de Maria sem-vergonha e ficou paradinha ali. Quem sabe assim o pássaro não a encontraria, não?
Mas que nada, mal haviam passado alguns segundos e lá estava o carnívoro bicão do sabiá que a perseguira. João abriu seu bico ao mesmo tempo em que Valéria fechou seus olhos redondos e pequenitos, ela não queria ver a desgraça sendo feita. Isso não! E, já começara a rezar quando do bico, ao invés de bicadas, saiu um sorriso. “Ah, você está bem. Graças a Deus!”, disse João.

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