sábado, 8 de dezembro de 2012

A vida verdadeira é feita de poesia

Edifício Copan, Sampa.



Muito antes de saber que arquitetura era uma profissão, ou mesmo de ter a plena noção do que era estar viva, eu me espantava todas as vezes que passava em frente ao Copan. Aquela onda gigantesca no meio da minha cidade feita de retas que visam o céu encantava-me, e encanta-me até hoje. Sei que não é a mais bela obra de Niemeyer e está longe de ser a mais conhecida, eu sei. Contudo, todo paulistano o sabe bem, e sabe bem como ele parece fluir no meio da cidade; nosso contraditório imóvel em movimento.

E hoje, pensando no Copan e no Seu Oscar, lembrei-me de um amigo que briga comigo a dizer que o meu problema é achar que a vida é poesia, e ela não o é. Pois, pior que achar que a vida é poesia, creio mesmo que a vida verdadeira, aquela que vale à pena, é feita, concretamente, dela. Afinal, que graça tem a vida, que importância nós daríamos a ela, sem toda a poesia que a constrói dia-a-dia?

Engana-se quem pensa que poesia faz-se apenas com palavras e em momentos mastigados e remastigados até que se tenha algo perfeito, que ela é coisa de muitas horas de estudo e de um conhecimento profundo de uma gramática qualquer. Claro que não! Poesia faz-se com a alma, com a intenção de por vida nesta vida que, se deixarmos, torna-se tudo menos viva e verdadeira.

A poesia está em imagens como Guernica e também nas fotos de nossas crianças em momentos de cara suja de chocolate e sorriso sem igual. Ela vive nas palavras tão genialmente utilizadas por Pessoa e nas músicas de Chico, mas também está presente no grito de uma nação num campo de futebol e num bilhete de amor tímido, e às vezes mal escrito, que se deixa de surpresa e que emociona a quem lê.

Poesia pode ser vista nos cabelos trançados das meninas e em tatuagens que mostram na pele o que passa pela alma da gente, mesmo que não se dê para estas coisas o mesmo valor que se dá para uma joia ou uma gravura expressionista. E ela também se apresenta nos passos de uma bailarina tal como nos movimentos dos meninos mostrando um pouco da cultura hip hop.

Há muita poesia em nossa vida, e a fazemos todos os dias mesmo sem querer e perceber. E eu tenho os meus momentos poéticos preferidos: como o abraço de muitos minutos que eu ganho do Pedro quando nos revemos depois de um longo tempo distantes. Não há como expressar em palavras o que sinto no momento em que ele pula no meu colo e lá fica por um tempo que me parece infinito a me abraçar com amor.

Há muita poesia em tudo que o Sr. Oscar Niemeyer criou, mesmo que a matéria usada tenha sido o concreto ou o cimento. E creio que esta é a lição mais importante que ele nos deixou: temos que fazer poesia, que fazer a nossa vida mais bonita e viva.

Um beijo e boa semana para todos vocês que fazem da minha vida um poético épico particular.





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