domingo, 2 de julho de 2017

A nossa Guerra



A nossa Guerra

Um bebê foi baleado na barriga de sua mãe no Rio de Janeiro na última sexta-feira. O menino pequeno teve seus pulmões perfurados e vértebras lesionadas por estilhaços de uma bala antes de nascer. Arthur, um bebê de 39 semanas de gestação atingido por uma bala perdida, corre risco de morte.  E isso é tão assustador para mim que me paralisa; faz-me sentir mais uma vez uma vontade descomunal de carregar a todos que amo para um lugar muito, mas muito longe daqui.

Arthur e sua mãe são mais duas vítimas da violência brasileira, uma realidade que beira ao caos e que dispensa um detalhamento de seus números para quem vive aqui, pois, a sentimos todo santo dia. A violência no Brasil ultrapassa a todo e qualquer parâmetro aceitável de um país que se diz em paz. Não estamos em paz. Estamos em guerra. Uma guerra um tanto mais silenciosa do que aquelas que são claramente deflagradas, contudo, e mesmo assim, uma guerra cruel.

Cruel porque todos se sentem ameaçados e porque verdadeiramente ameaçados sentem-se, e estão, aqueles que menos podem se defender: os mais pobres e os pequenos, as crianças. Morrem crianças sem armas e morrem também as crianças armadas. Um estudo divulgado em 2016 mostra que o número de mortes por assassinato supera a todas as outras causas de morte quando falamos de crianças e jovens nesse país. E aqui cabe assinalar um número: em média 29 crianças e adolescentes são assassinados por dia em nosso país.

O brasileiro não caminha tranquilamente na rua a qualquer hora do dia, tem medo de parar nos semáforos e não se sente muito à vontade em lugar algum. Na praia, nos ônibus, nas escolas, em lojas, em casa; nas comunidades e atrás de muros altos de condomínios... Seja lá onde for, sentimo-nos inseguros. Há balas perdidas diárias, sequestros relâmpagos, assaltos, assassinatos, estupros coletivos ou não, arrastões, tiroteios com armamento pesado, e o medo de uma violência cada vez mais comum entre todos nós: a violência preconceituosa e gratuita. O mito de um país alegre e gentil é uma terrível falácia, no Brasil vivemos em guerra.


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