domingo, 23 de outubro de 2016

A Libélula



A Libélula


Voou a Libélula pela janela sem querer,

sem o meu querer,

sem o querer dela. Dando fim, assim,  

aos nossos dias juntas, aos nossos segredos compartidos,

às lembranças construídas dia a dia por tantos dias sem fim.

Ela era minha. E eu por ela enamorada,

encantada.

Levou-a uma monstruosa mão estrangeira, invasora de nosso mundo particular,

a arrancar de mim sem piedade uma grande parte.

Foi-se para todo o sempre meu pequeno tesouro particular,

pequeno em valor e em tamanho, imenso em histórias e sentimentos

que foram delicadamente construídos  através de passos dados

por espaços por onde não passarei mais; nunca mais.

Pois ao passado não nos é dada a possibilidade de voltar.

Foi-se, levado por mãos de ratos, uma parte de meu passado:

lembranças minhas, lembranças de amigos e família,

lembranças de minha Mima.

Sobrou apenas o nó na garganta e a dor no peito que causou tal amputação,

mágoa temperada pelas águas salgadas do mar que chegaram

e me alagaram. Afogaram-me.

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