sábado, 31 de agosto de 2013

O menino



Maurício corre em meio aos adultos e se diverte com seus cachinhos loiros a pular freneticamente enquanto as pernas e os bracinhos de boneco tentam acompanhar as passadas das pernas muito mais longas que as suas. Maurício corre e eu me divirto, apenas porque ele está lá, enquanto faço os meus exercícios toda noite na praia. Não conheço o Maurício, mas conheço a voz da mãe dele que, vez ou outra, grita o nome do menino enquanto ela se exercita no grupo vizinho ao meu. “Maurício, vem pra cá.”, grita a mãe enquanto o menino, sem cerimônias, invade todos os espaços da praia que, a seu ver, lhe pertence.

Simpático e espirituoso, ágil e bonito, o menino que merecia um poema de Vinícius tem mesmo passe livre entre todos nós. Ninguém, nenhum dos adultos que está ali a exercitar-se, vê com maus olhos a chegada do menino. Na verdade, muito ao revés disso, esperamos ansiosos por ele e por sua loira cabeleira a correr feito gente em miniatura pela praia. Pois, como nos contou o próprio Vinícius: “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos como sabê-lo?” Os pequenos são a felicidade em carne e osso. E assim é o menino da praia que faz-nos lembrar de que a vida é divertida, pois disso ele sabe bem e, enquanto lutamos contra o tempo e tentamos retardar os reflexos deste e dos “maus hábitos” adquiridos pela vida fazendo exercícios, diverte-se o Maurício. Tudo é diversão.

Eu paro os tais exercícios apenas para vê-lo passar e fazer das suas: Invadir a quadra de vôlei e fazer com que as regras do jogo deixem de valer por alguns minutos até que os jogadores o tirem de cena apenas para que o menino possa voltar rindo-se do vai e vem das pernas gigantes ao seu redor. Roubar os obstáculos dos circuitos que por nós são respeitados como lei e norma inquebrantáveis, e que por ele não fazem nenhum sentido, e que estão lá apenas para que ele possa dispor deles como bem queira. Até que sua mãe grite mais uma vez: “Maurício!”.


E lá se vão seus pezinhos a correr pela areia fofa mais uma vez, brisa noturna a acompanhá-los e um sorriso de satisfação no rosto. Eu sorrio também e penso que seria muito bom trazer meus meninos a praia para brincar. Talvez até mesmo para brincar com ele, o menino que brinca de ir e vir, feito o mar, pela praia de Iracema. 

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