sexta-feira, 24 de junho de 2016

A Casa




A Casa


Dias frios e azulados de céu iluminado na cidade de gentes caladas,
gentes que vieram de todos os lados;
aqui somos todos diferentes e, por isso, somos todos iguais ao mesmo tempo.
Gente que caminha calada e encolhida numa cidade feita de muita pedra e sofrimento,
ponto de encontro dos sem destino certo
desde os tempos nos quais ainda não tínhamos certeza se o mundo era redondo com certeza.
Índios, europeus, africanos,
japoneses, judeus e libaneses: aqui viramos todos parentes,
irmãos bastardos que caminham, querendo ou não, lado a lado.
Esta é minha terra, e aqui estão as ruas por onde aprendi a caminhar,
onde aprendi como cai a chuva, sobre os ombros de quem quer que seja
sem qualquer distinção, de todas as formas conhecidas no planeta...
Grossa e quente,
fina e fria.
Onde aprendi que os dias podem ser bons, longos e quentes no verão;
e que as madrugadas de inverno matam congelando por dentro os que, enamorados pela ilusão,
decidiram  seguir de braços dados, por um breve momento, com a solidão.
Dias cinzas na minha cidade de tantas gentes frias e iluminadas,
cidade dos amigos, das raízes, da família.
Cidade que será para sempre aquilo que eu chamo de lar,
passe o que passe, seja como seja,
esteja eu a viver em qualquer outro ponto deste planeta:
sou e serei por toda a vida uma mulher paulistana a viver em terras estrangeiras.


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