De nós e tripas
Numa tarde acinzentada percebi o significado
claro
da expressão – fazer das tripas coração.
Quase como uma equação matemática, há passos
em estreitos compassos
que nos levam a tal extravagante transformação. 
Depois de muitos nós na garganta
elaborados pela voz embargada que a seco foi engolida
causa-se um congestionamento no peito,
e o coração bate sufocado.
O coração apertado por tais e tantos nós,
pobre dele, 
abatido e vencido, perde a cadência
e ameaça parar;
naufragar.
Desesperado, vendo o fim perigosamente próximo com o apagar
de suas ideias, 
o cérebro manda um sinal de perigo e põe em alerta 
o todo do seu corpo.
Só então nasce uma força vinda do desconhecido que às
tripas,
até aquele momento ignoradas, esquecidas,
dá vida. Serpentes,
elas sobem pelo peito a formar uma parede para os trancos
e os socos na boca do estômago
receber.
Assim, protegido pelo escudo e apoio das tripas 
que aguentam a pancada da ressaca, sai o coração ferido,
no entanto, ainda vivo.

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