domingo, 18 de setembro de 2022

Capotando

 


Capotando

 

O mundo não gira, ele, às vezes, capota... E sempre que ouço ou leio isso, sorrio. Não porque simplesmente eu ache graça da desgraça alheia, mas porque imagino o mundo, gordinho, de pernas para o ar sem saber como fazer para resolver a situação; feito uma tartaruga de barriga para cima.

Por esses dias, li a tal capotagem do Mundo numa postagem que zombava de um time de futebol feminino e sua torcida que, devido à vantagem conquistada anteriormente, já se achavam vencedores da parada. Pois 1, perderam. Não só perderam, mas levaram uma surra vergonhosa de dar pena a todos. Bem, quase a todos.  Nós, os que batemos figuradamente, apenas no campo do desporto, amamos o feito.

Contudo, o fato, é que a tal capotagem faz parte de nossa natureza. Quando menos esperamos, sem percebermos de onde veio a rasteira, de um repente nos vemos de pernas para o ar à la barata tonta. Falhamos, ou o mundo falhou conosco. Não importa. O fato é que muitas e muitas vezes aquilo que nos parecia certo simplesmente não acontece.

Eu também já capotei inúmeras vezes e com estilo, para além de todas as vezes que realmente fui ao chão atabalhoadamente devido à minha natureza de jaca distraída: destinada à queda. Sim, tenho quedas homéricas em público; vergonhosas, engraçadas e doloridas.

Por anos, a verdade é que os “capotes” metafóricos me foram muito mais custosos e doloridos do que os físicos. Sempre me achei dona da situação, pelo menos da minha situação, do meu lindo narizinho de batata. Ou seja, acreditava piamente controlar minha vida e tudo que nela acontecia. Sendo assim, perceber que minhas crenças e certezas eram, e são, falhas, ter que aceitar o fato de que estou equivocada era quase impossível... Meu Deus! Por quê? Como assim? Não pode ser... Pode?

Pois 2, pode sim. Mais do que pode, é tão certo quanto mais provável à medida que aceitamos a falta de importância de nossa existência neste Universo, o fato de que o Mundo caminha a despeito e à deriva da nossa vontade. E, sendo assim, não há qualquer motivo para que Deus se preocupe conosco, ou para que nosso querer seja mais importante do que o de uma formiga.

Bom, alguns poderão argumentar que estamos destinados a feitos incríveis. Sim. E daí? Haverá um tempo no qual todos os feitos geniais desta nossa humanidade terão sido esquecidos por todos, mesmo que em nossa época tenham sido extraordinários. Imagine-se lá, então, a quão esquecida estarei eu, em minha ordinariedade, em menos de cem anos?

Bom, o fato, é que a tal desimportância ao invés de me deprimir, veio a libertar-me. Compreendi, mesmo que ainda seja muito difícil praticar diariamente, que não valho mais do que qualquer ser vivente deste planeta, e que aceitar a minha natureza mortal e comum é um grande alívio. Erro, logo existo um pouco menos estressada.

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