domingo, 20 de novembro de 2022

A Copa do Mundo Agridoce

 


A Copa do Mundo Agridoce

 

Começa mais uma Copa do Mundo e eu, como sempre, me assanho. Olhos famintos por todos os jogos, camisa nova do Brasil, horas e horas de programas sobre a bola. E a busca por outros que como eu respiram o gramado da cancha felizes por estes dias para uma boa prosa de horas é um prazer. Sim, gosto de futebol desde que me lembro por gente. Talvez por querer passar algum tempo com meu pai e ter o que falar com ele. Coisa de meninos, sabe? Pode ser.

Entretanto, não há, para mim, como não se apaixonar por um jogo de xadrez cheio de emoção e movimento. Peças todas vivas e alertas, a estratégia que anula o oponente, ataque contra defesa, os lances geniais e inesperados. A inteligência e as capacidades físicas unidas a favor da beleza de gols únicos; como não amar tudo isso? Não sei.

Desta vez algo me diz, simplesmente porque sim, que mais uma vez verei a minha seleção campeã. Quiçá? Aceito apostas. Chances temos, como quase todos os times as têm. Porém, o mundo todo há de convir que 20 anos sem um título é tempo demais para nós. A mais mágica de todas as seleções de futebol tem que brilhar mais uma vez; não? Sim! E isso será muito bom para nós brasileiros apesar de todos os pesares.

E os pesares são tantos que, mesmo com todo o fanatismo pela redonda a rolar, não conseguimos mais ignorar o tamanho das injustiças do mundo do futebol, de sua cobiça infinita por dinheiro e poder, de seus desmandos e absurdos que ocorrem apenas para que tenhamos nós, pobres mortais, um mês de muito circo e pouco pão.

A copa no Qatar traz consigo mais questionamentos sobre o quão equivocada foi esta escolha de país para o evento do que as maravilhas que todo o infindo dinheiro dos xeiques catares pode comprar. Afinal, como celebrar uma nação onde a liberdade é um bem restrito a homens héteros e com alguns dinheiros no bolso? Um país misógino, xenófobo, homofóbico. Um país? Pois, não há como celebra-lo.

Como foi difícil celebrar a Rússia de 18, o Brasil de 14, a África do Sul de 10... a Argentina de 78. Esta é uma história antiga, não?

Curioso torna-se, porém, o fato de percebermos que um país artificialmente fantástico em sua essência não consiga de forma alguma esconder as mazelas humanas, que pululam num mundo tão agridoce quanto o nosso, de nossos olhos nem mesmo enquanto a tenda do grande circo está armada e o picadeiro iluminado.

Que venha o hexa sem direito a grandes festas e ilusões.

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