terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Vida de um jeito Diferente

La ventana de mi piso en Barcelona (obsessão minha por janelas)



Sempre que viajo gosto de fazer as coisas que são comuns àqueles que vivem onde estou. Então, ir ao mercado, à farmácia, andar pelo bairro, usar os transportes públicos e ver as pessoas em suas rotinas sempre me agrada muito.  Gosto disso porque são nestes momentos e lugares, muito mais e profundamente do que nos monumentos históricos, que vemos o quão diferente a vida pode ser. Apenas daí percebe-se claramente que este mundo não é o seu e que tudo o que nos é óbvio e corriqueiro deixa de ser.

Claro que de uma boa distância, algo como uma visão macro, todos somos iguais sempre. Hoje, passeando pelo bairro, vi as crianças saindo da escola e aqui, como na minha terra, vemos as meninas pequenas de mãos dadas a sair uniformizadas e falantes pelas calçadas com suas mães caminhando perto delas, ao passo que os meninos vão a correr e brincar enquanto suas mães lhes gritam que esperem. Tudo isso acontece no Brasil também, mas, aqui, assusta-me a facilidade com que as mães deixam as crianças bem pequenas a correr soltas pelas calçadas. E fica a impressão que elas são muito mais independentes e responsáveis do que os nossos meninos. Talvez?

Ir ao mercado é sempre um espetáculo à parte, um assombro e um momento para muitos descobrimentos. Ou não descobrimentos porque há coisas que, simplesmente, não encontramos jamais. Como, por exemplo, um pano de prato ou de chão feito de saco na Espanha e um coador de café no Chile. E me pergunto: Deus do céu, como se seca a louça ou faz-se café nestes lugares?

Dúvidas aparecem o tempo todo e tem-se que aprender como fazer coisas simples como colocar o lixo na rua, abrir a porta dos trens no metrô e entender um endereço. E, assim, vendo a vida dos outros de perto, me sinto cada vez mais brasileira. E me dá uma saudade danada do Pão de Açúcar que eu tanto conheço depois de dar várias voltas no supermercado para encontrar detergente ou arroz, e a expressão “peixe fora d’água” se aplica tão bem neste momento que até dói, afinal, onde está tudo aquilo que eu costumo ter à mão? Cadê a tal da globalização?

Porém, e apesar do sofrimento com o sono que não se encontra com a noite que chega muito antes com este “jet lag” de cinco horas e “otras cositas más”, ver um mundo pensado e criado por outros olhos é um exercício que todos deveríamos fazer. É genial poder caminhar pelas ruas a qualquer hora da noite ou do dia sem perigo algum, perceber o respeito e a noção clara de cidadania que todos têm e ver como, delicadamente, a história desta gente ainda está presente em todo canto por aqui.

Viver, mesmo que seja um pouco, noutro país abre os olhos e a alma da gente e nos faz entender melhor o quão incomum e, por isso mesmo, precioso é o viver de todas as gentes.



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