sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sete de Setembro




Hoje fui acordada pelo Sete de Setembro a entrar pela janela aberta do meu quarto às sete da manhã. E eu a sentir uma raiva absurda desta mania de soldado de acordar cedo; já não basta o castigo de ter que lutar em guerras, não? Estas pobres almas têm que acordar cedo todos os dias, sempre, também? E fica a dúvida: guerra só se faz pela manhã? Sendo muito sincera, nem mesmo se eu fosse a mais patriótica das mulheres essa teria sido uma experiência prazerosa. Pois, por mais que eu goste de música, isso de gente marchando ao som dos tambores está para meus ouvidos como os estridentes despertadores da minha infância a acordar cedíssimo para estar às 07:15 no colégio: Desagradáveis.

E passam homens vestidos com seus uniformes verdes, brancos e azuis, tão simétricos e parecidos com seu andar nada natural que chamamos de marcha; tão parecidos entre si que mais parecem brinquedos de corda todos idênticos daqui do apartamento. E passam estudantes que chegaram até a Avenida Beira Mar em ônibus vindos, todos eles, de escolas públicas. Porque no Brasil, como em todos os outros países deste mundo, o amor à Pátria é proporcionalmente maior quanto menor for o poder aquisitivo do cidadão quando a questão é ir dar a cara à tapa e arriscar a vida. Os meninos das escolas particulares estão, como eu, por aí: viajando, descansando, dormindo ou aproveitando o feriadão para fazer o que mais lhes dá prazer.

E já são quase 04 horas de desfile e eu começo a me sentir em Cuba, na China ou na antiga União Soviética, terras nada democráticas e artificialmente patrióticas com seus desfiles e discursos de horas e horas feitos sob medida para povos que não podiam dar-se ao luxo de pensar. Mas hoje, tudo é muito diferente. A União se desfez, Fidel não discursa mais para ninguém, a China de comunista só tem o nome e no Brasil o fato de uma mulher ser a presidente não causa nenhum estranhamento. Quem diria?

E passa banda marcial, carro de polícia e caminhão do exército, em dia de festa, em alto e bom som a concorrer com o Chico Buarque que toca no meu computador. Vencem as sirenes e tambores que parecem que ainda soarão por muito tempo. Agora começo a me arrepender por não ter descido de bandeira verde-amarela na mão para fazer número no desfile, afinal, me é impossível não fazer parte dele mesmo estando dentro da minha casa. Será? E uma pergunta me vem à mente: será que estas viaturas têm mesmo que desfilar com as sirenes ligadas? Não bastava passarem bem quietinhas e imponentes num patriotismo mais discreto? Tem que fazer este barulho todo para mostrar o quê, hein? Pelo amor de Deus!

Pode até parecer que não gosto do meu país por toda esta minha má vontade para com o dever cívico e patriótico. Eu sei. Mas não é bem assim não. Gosto muito de ser brasileira, de fazer parte deste povo mesclado e misturado de cultura rica, múltipla e interessantíssima. Um povo de fala doce e que nasceu para dançar e cantar muito mais do que para a guerra para a minha alegria. Contudo, queria ver neste dia tanto o país quanto seus cidadãos fazendo algo mais importante do que desfilar sob um sol e um calor terríveis numa manhã de feriado. 

Queria ver uma batalha por melhores escolas, por um país mais justo para todos, por uma justiça imparcial e efetiva sempre, pelo respeito às individualidades tanto quanto ao bem comum e social.  Por um punhado de coisas que fazem muita falta à Nação. Mas, e apesar de ter mudado muito nos últimos anos, nem o mundo nem o Brasil dos desfiles, futebol, carnaval e todos os seus eteceteras e tais, mudou tanto assim. Bora desfilar?

Beijo e bom feriado verde-amarelo a todos. 

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