quarta-feira, 1 de maio de 2013

A beleza além do olhar




Ontem percebi de maneira mais clara, através de um brado sentido e definitivo, que pelos dias que correm os meninos estão tão preocupados com sua aparência quanto as meninas. Assim, enquanto conversava com um de meus sobrinhos e seus 13 anos, me incomodou um pouco esse conceito fixo, fatal e ditatorial que ele leva consigo: “As meninas só gostam dos meninos bonitos. E ser bonito significa ser loiro de cabelos lisos, ter olhos verdes ou azuis, ambos bem claros, e ser magro com o abdômen definido.” Ou seja, não há nenhuma chance de ser um ser interessante se o “desinfeliz” do rapaz nascer moreno ou negro, se seus olhos não refletirem o céu ou o mar, ou se ele tiver uns quilinhos a mais. E o pior é que não basta ter uma das tais características, não senhor! Pois a beleza só se dá com a combinação celestial de todas elas ao mesmo tempo e num mesmo ser escolhido por Deus para ser, assim, o reflexo de uma obra divina.

 Eu, que tive minha adolescência numa época muito mais complacente e humana, um tanto distante de padrões absurdos, nunca senti tal pressão estética mesmo sendo uma menina. E isso me assusta. Assusta-me ver que os meninos hoje preocupam-se tanto com algo que não tem importância alguma. Sei que tanta preocupação é, em grande parte, fruto desta fase de tantas mudanças e poucas certezas pela qual ele passa. Sei disso. Mas fiquei triste porque sempre senti uma inveja doce dos homens e de sua falta de preocupações com as coisas mais fúteis desta vida. Para os meninos a vida parecia mais fácil e livre com seus videogames, discos, bicicletas e a molecada a andar em bando. Sempre me foi tão mais fácil ouvir as conversas dos meninos, e com eles falar, porque nelas não havia sapatos, um peso ideal, produtos que tornassem nossos cabelos tais como os da atriz e besteiras assim. Meninos falavam de futebol, de música e de política, de como podíamos e devíamos mudar o mundo, e de viagens com mochilas nas costas para ver este mesmo Mundo antes que ele mudasse demais.

Não percebo como nem quando chegamos a uma realidade tão estranha como esta que vejo aqui. Quando deixamos de compreender o que realmente vale a pena e nos entregamos a padrões absurdos. Bem, quiçá eles sempre tenham estado aqui e apenas eu não os percebi. Pode ser. Contudo, não há como pensar que a aparência é a única coisa que interessa e que por conta dela, por nós, alguém irá se apaixonar. Não. Da mesma forma que não nos encantamos por um livro pela sua capa, não há como se encantar por alguém por um longo tempo apenas pelos seus dotes físicos. De jeito algum. Pois, hoje e para todo o sempre, é aquilo que está contido no livro, como nas pessoas, que nos encanta mais e mais à medida que viramos suas páginas e vamos, feito viajantes, a descobrir tudo que lá existe com o passar do tempo.

Sei que o meu menino mudará muito ainda e com ele sua opinião também. Espero apenas que ele perceba logo que não existe um padrão de beleza e que o gostar caminha muito longe de um trilho pré-definido. O gostar vaga feito passarinho e, sem querer e sem saber o porquê, pousa seu olhar no olhar de alguém e daí, a verdade, é que o que vemos mais ninguém vê. Vemos a beleza que há para além do olhar.

Aos meus amigos, que são todos do seu jeito e, por isso, igualmente lindos, um beijo.



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