quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cadernos


Perdi meus cadernos e sinto-me órfã,
daquelas orfandades onde faltam partes de si.
Perdi-os, mãe desnaturada e relapsa, e agora me resta
o lamento de quem sabe que errou,
que percebe a dimensão universal de seu crime.
Eles andam pelo mundo, e o assombro de que o mundo
possa andar por eles me apavora.
Nos cadernos há partes de mim que nunca foram vistas,
os profundos segredos obscuros de uma alma fingidora.
Neles reside, em absurda concomitância, o que de mais belo,
um dia, houve em mim.
Perdi-os.
Perderam-se
                   em aviões que partiram antes que eu a eles pudesse retornar.
Perderam-se
   em mudanças de casa,
           apesar de eu tê-los guardado numa caixa,
como muitos dos objetos que se perdem
nestas ocasiões
          por criarem pernas.
Perdi-os, e sinto que tenho filhos meus perdidos,
pois partes de mim andam por este mundo completamente
alheios a mim.

Perdi-os, e sinto-me perdida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário