quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O vinho




O vinho

Levanto a taça de vinho
Brindo
aos tempos desimportantes que temos
(que tivemos)
Contas pagas e pouco dinheiro no banco
dão me a certeza de que quando o fim do mundo vier
o meu quinhão de paraíso não estará garantido
o céu é para aqueles que nadam nas moedas
eu apenas as vejo passar
anos incríveis
anos difíceis
os anos passaram a observar por onde eu ia
e nem tiveram a decência de assoviar para que eu não dobrasse
errada
aquela esquina; anos insensíveis.
Um brinde aos nossos descaminhos!
Gosto do caminho que faço
(dos caminhos que fiz)
apesar do meu eterno descontentamento comigo e contigo
com tudo
e dessa mania irritante de querer mudar
de lugar; de lar
Queria ser árvore, sequoia centenária
feliz de estar plantada estática no mesmo lugar,
mas sou nuvem nada densa
inconstante
que vaga encantada com toda a paisagem
com o caminhar
Parece-me que o desassossego do meu poeta querido quedou-se um
bocado comigo pois
azul é a minha cor, sempre o foi
e assim,
desde menina,
algo parecia faltar-me
ou sobrar-me
um mundo infinito que existe apenas na minha cabeça
existe muito maior do que todos os planetas do sistema
e, por dentro,
lagarta esfomeada, vai roendo o meu juízo
e levanto minha taça
a um brinde sem qualquer motivo.

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