terça-feira, 21 de abril de 2020

Em casa à deriva



Em casa à deriva

Escrever é uma terapia solitária e desavergonhada que me acompanha há alguns anos. Expressão mais sincera daquilo que cá por dentro me enche a cabeça e o coração. Gosto muito de escrever porque a escrita me conforta, porque dessa maneira não se empilham nem se perdem as ideias e os sentimentos escondidos na cachola que não para de pensar. Ao escrever guardo-os fora de mim e, sendo assim, a tal escrita é quase tão terapêutica quanto a meditação.

Tenho escrito pouco, quase nada. E isso me incomoda bastante porque quiçá me mostre que com o passar dos anos, destes últimos anos, estou cada vez mais distante de tudo e calada. (risos) Eu sei, isso de eu estar calada parece piada para qualquer um que me conheça um pouco melhor. Eu calada é algo tão raro quanto um eclipse solar. Muito raro mesmo.

É verdade que tenho escrito pouco porque ando a trabalhar muito. E, não, a escrita não é, e não pretendo que seja jamais, trabalho. Falta-me talento para tal e gosto de nutrir a bonita ideia de que ela seja única e exclusivamente uma paixão. Sem regras e nem razões alheias a mim. Uma vez um amigo me disse que eu gosto de viver como se a vida fosse poesia. Um tanto fantasiosa e dramática. Pois, ele tinha razão.

Por esses dias, em meio a tal pandemia, tem me sobrado um pouco mais de tempo e há dias ensaio colocar no papel digital algumas palavras. Só ensaio. Sobra-me tempo; falta-me a vida talvez? Não sei. O que sei é que me sinto em suspensão, como se estivesse a flutuar no espaço sem direção. Vago, náufraga à deriva, sem sair do lugar e foge-me qualquer sentimento e quase todo pensamento. Quiçá muitos sintam-se assim, um tanto perdidos sem saber muito bem o que sentem e pensam de tudo que temos vivido por esses dias.

A única certeza que tenho é de que não vejo a hora de sair por aí. Quero encontrar os amigos, abraçar meus miúdos, sentar numa mesa de bar, andar de bicicleta no Ibirapuera, ir ao cinema, fazer uma festa em casa cheia de gente, viajar. Quero a rua!

Bom, é fato que algumas coisas boas ganhamos com a tal pandemia e a quarentena que parece eterna. Eu ganhei muitos dias e muito tempo com o meu pai. Há alguns anos não passávamos tanto tempo juntos e quase já sinto falta destes dias com ele porque sei que eles terminarão. Dias de muitos jogos antigos de futebol na TV, de yoga pela manhã, de almoços com conversa e de uma companhia que a mim me fazia falta; muita falta.

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