domingo, 6 de janeiro de 2013

O pedido de meu Pai



Pouco depois de chegar a São Paulo para esperar o fim do Mundo e passar o Natal em família, ouvi meu pai comentar, meio em tom de decepção, que achava que eu escreveria algo sobre a conquista do Mundial de Futebol pelo Corinthians. Ele havia esperado ler algo sobre a nossa mais importante vitória que foi, muito provavelmente, o momento mais inesquecível para todo o corintiano ainda vivo.  Algo, do meu ponto de vista, mais bonito que a comoção que tivemos em 77 devido a todo o conjunto da obra. Afinal, para quem faltava se firmar como um time capaz de disputar e conquistar algo fora do Brasil, o ano de 2012 foi um presente sem igual.

E, a bem da verdade mais verdadeira, eu também achei que escreveria algo sobre o fato, já que não houve, para mim, emoções mais fortes ligadas ao futebol do que as deste ano. Não há conquista de Copa do Mundo que chegue aos pés do que senti com a vitória na Copa Libertadores da América que me fez chorar pela primeira vez de alegria por amor ao futebol. E houve o bis de choro no final do ano. E que orgulho foi ver o meu time campeão de maneira tão bonita e definitiva; sem senões nem “poréns”. Vencemos, em ambos os campeonatos, de maneira justa, poética e sofrida como deve ser toda vitória do Timão.

Porém, tanto antes quanto depois dos feitos, a verdade é que me incomodou demais todo o bate-boca desnecessário entre torcedores de outros times e do meu. Pois eu, apesar da paixão pelo meu time de coração e alma, não consigo entender os porquês de tanta agressividade, das ofensas entre as torcidas, e de tanta bobagem que ouvimos por aí; e por aqui. E isso me deixou mesmo sem vontade, acabrunhada, para dizer qualquer coisa sobre nossas conquistas. Murchei.

Murchei porque não me agradaram nada as ofensas e toda a raiva que percebi, porque me decepcionou tanto a raiva dos outros torcedores quanto a soberba exacerbada de alguns dos meus. Como algo que nos traz tanta alegria como uma conquista inédita de nosso time, e que é sagrado para todo o torcedor, não é respeitado por todos nós? Haveria alguma conquista que valesse a pena sem adversários à altura? O que seria do Corinthians sem o Palmeiras, do Santos sem o São Paulo, do Brasil sem a Argentina? Que graça há em termos um time do coração se não sabemos respeitar os adversários que se apresentam do outro lado? Não devemos nos importar mais com as nossas vistorias do que com as vitórias ou derrotas alheias? Não?

Eu cresci vendo na casa de meus avós paternos duas flâmulas penduradas na parede da sala: o Corinthians de minha avó Luiza, torcedora praticante e fanática, e o Palmeiras de meu avô Luiz, verde que só pelo seu verdão, conviveram durante mais de 60 anos animada e pacificamente numa casa democrática. Por isso, apesar de saber que perturbar um pouco o outro faz parte do jogo, aprendi com meus avós e com meu pai e minha mãe (que torce para quase qualquer time, principalmente se este estiver a perder) que nunca devemos perder o respeito por quaisquer adversários e suas conquistas, nunca. O que não quer dizer que torcemos para eles; que fique claro. Mas, quer dizer, sim, que nos sabemos seres inteligentes o bastante para entender que, paixões pelo futebol à parte, nós nos queremos muito bem.

Um beijo a todos os meus amigos (torcedores de qualquer time), e um beijo especial aos meus pais corintianos que me fizeram quem eu sou. 


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