domingo, 2 de junho de 2013

O gosto da comida

Nossos almoços e jantares no Chile,
comida que amei porque era fantástico o  sabor da companhia

Sem muito paladar, quiçá conhecimentos, para apreciar qualquer comida como percebo que alguns o sabem fazer, fico à deriva do sabor exato e cheio de detalhes. Desconheço o que sentem as pessoas que têm esta espécie de sabedoria conectada às papilas gustativas e que podem com algumas garfadas detalhar ervas e ingredientes, detalhes que me passam tão despercebidos que parece-me que faltam partes da minha língua. Talvez o vício do café muito quente tenha lá o seu preço e tenha queimado pra sempre as minhas capacidades para o sabor, talvez. E, por isso mesmo, por esta falta de paladar, tornam-se, para mim, deveras relativos o valor e a qualidade de qualquer prato. Não sei apreciar comida, apesar de gostar de comer e, por isso, nestes dias fiquei pensando no sabor que a comida tem pra mim. Eita mulher sem muito pra fazer, não?

Bom, na verdade, tenho sim meu tempo egoísta, aquele tempo que só conhecem as mulheres que não tiveram filhos e que por isso mesmo têm tempo pra pensar naquilo que não interessa muito a ninguém. Ou como dizemos por aí: fico mesmo a pensar na morte da bezerra. A procurar sarna pra me coçar e a encontrar pêlo em ovo. (p.s. Dá-me uma raiva esta reforma ortográfica e meu pelo, rebelde, ainda leva acento). Bora voltar ao assunto em questão, que não é pêlo, mas comida. Aliás, meio nojento isso de misturar pêlos e comida, sim? Credo! (sorriso) Em sério, agora, bora encerrar a digressão. A realidade é que por estes dias percebi que o gosto da comida para mim tem muito mais relação com minha memória afetiva do que com o gosto real que ela carrega em si. Explico-me.

Gosto de comer aquilo que me lembra de algo, que me lembra de um tempo passado, que me remete a alguém, que evoca memórias guardadas com tanto carinho que têm, elas sim, um sabor tão bom que não consigo descrever. Portanto, não me lembro do gosto de um prato de um restaurante e não sei compará-lo a outro como fazem outros. Sei dizer que amava os pães da minha avó Luiza que os fazia sem receita e que eram acompanhados de café forte nas tardes de domingo. Sei que os amava porque eles vinham em companhia da risada sonora e debochada de dona Luiza, de todos nós, filhos e netos, ao redor da mesa e dos meus avós me chamando de Stelinha.

Por isso também, sei que morro pelos bolinhos de arroz da minha mãe, que nem cozinha tão bem assim, mas que sempre nos mimou como ninguém e o faz até hoje. Sinto-me menina ainda quando como sua comida, ou quando a vejo acordar cedo para fazer o meu café pela manhã. Nestes momentos sou menina pequena e protegida e este é o sabor mais raro a esta altura da minha vida. Nada tem um gosto melhor do que os bolinhos de arroz da minha mãe. Nada neste Universo nunca terá.

Por razões parecidas, mas com um toque de sofisticação na receita, não há nada mais doce que os bolos que faz o meu pai. Sim, tenho um pai prendado. Sorriso. E, apesar de sempre ter sido um homem muito sério, um tanto duro e fechado durante toda a minha infância e adolescência. Apesar do medo que ele causava em minhas amigas e nos meus poucos namorados, apesar disso tudo, não houve um dia nesses anos todos que ele tenha me deixado sozinha. Nem um dia sequer. E quando volto à casa de meus pais, de visita, me encanta ver seus bolos macios feito algodão, suaves e saborosos como nenhum bolo que eu tenha comido pôde ser. E sinto todo o amor que meu pai, meio sem jeito, nos deu durante toda a sua vida.

Sim, adoro comer. Mas isso quando estou na companhia daqueles que amo, que comer na solidão jamais me dá qualquer prazer. Detesto isso de comer sozinha. Então, que venham muitos almoços e jantares com os amigos e a família que todos os quilos ganhos com eles serão sempre bem vindos!


Um beijo a todos e bom almoço, cheio de carinho, neste domingo. 

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