domingo, 16 de agosto de 2015

O pra sempre... Sempre acaba...



O pra sempre... Sempre acaba...

Queríamos que fosse diferente e que o passar do tempo não tirasse nada nunca da gente; que o pra sempre fosse verdadeiramente eterno para que não tivéssemos que dizer adeus para ninguém. Muito menos a quem amamos, menos ainda para quem amamos tão profundamente que fica complicado perceber como o Mundo ainda está a girar se ela por cá não anda mais. Isso é difícil, difícil demais para explicar. Mas é assim que as coisas são: um dia partimos sem muita explicação e não há nada que se possa fazer para mudar tal fato. Portanto, antes de tudo, temos que aceitar que o pra sempre, sempre acaba.

Minha mãe, minha Mi, partiu esta semana e, apesar de ser muito difícil falar sobre o tal fato, sinto que é importante fazê-lo por uma boa razão: porque minha mãe sempre será uma mulher fantástica e me é muito importante me lembrar dela. Minha mãe foi, e sempre será, uma mulher genialmente múltipla, multifacetada. (Sorriso.) Ela acharia, com certeza, uma palhaçada isso de “multifacetada”, e daria de ombros para uma palavra tão complicada como esta para explicá-la. Porém, a realidade é que minha mãe teve sempre qualidades que parecem, num primeiro momento não combinarem por soarem contrárias.

Mi era tão forte e carinhosa ao mesmo tempo, divertida e brava, sincera até doer e gentil; antes e acima de tudo, minha mãe era amorosa e verdadeira. A minha Mi sempre foi genuinamente ela mesma a dizer tudo que lhe passava pela cabeça e pelo coração. Minha mãe foi uma menina maluquinha linda de se ver; divertida e dona do próprio nariz como ninguém. Fácil, não, ela não era fácil. Ela era de verdade, mais de carne e osso que muita gente. Mulher de sangue vermelho e quente, de olhos doces e verdes; tão pequena e de espírito tão forte que, às vezes, tanta força espantava a gente. Nada, nunca, pôde parar a Mi nesta vida até seus últimos minutos no planeta azul. A baixinha mandava na casa e amava a toda a gente que por ela passou.

Por isso, quando, um ano atrás mais ou menos, soubemos do tal câncer inexplicável no pulmão, pedi a Deus que minha mãe não sofresse e que pudesse viver bem até o fim porque era isso que ela merecia. O tempo que tínhamos era lá com Ele, prometi não reclamar. Prometi aceitar. Na manhã da última quarta-feira, minha mãe e eu conversamos na sala enquanto eu tomava o café da manhã e ela assistia à televisão. Ela foi conosco à cozinha e, sentada numa cadeira, deu as ordens enquanto meu pai e eu fazíamos o almoço. Ela brigou comigo e eu com ela, como sempre. Ela almoçou e fez planos para a tarde apesar do fato de ser muito difícil para ela respirar. Ela escovou os dentes e foi, com a ajuda de meu pai e eu, ao sofá da sala de TV. Ela sentou-se com nossa ajuda, fechou seus olhos e deixou-se ir com uma lágrima. Lentamente, a Mi parou de respirar.

Com minha mãe aprendi a amar ilimitadamente, a sonhar, a gostar de flor e passarinho, a falar o que penso e a rir alto, a enfrentar a vida e a morte sem medo. Por isso, agora, apesar da saudade doída que sinto e da falta danada que ela já me faz, gosto de pensar que ela está com minhas avós, Estela e Luiza, em algum lugar cheio de flores. Não posso imaginar um lugar sem flores para a minha mãe estar. Agora, ao invés de usar palavras para falar com ela eu converso com a Mi em pensamento e dá-me um pouco de medo pensar que ela está lá no céu, o além-mar onde ela está e aonde eu não posso chegar, a descobrir todos os meus segredos porque agora ela consegue ler meus pensamentos. Não quero nem ver o tanto de broncas que vou receber quando, um dia, nos reencontrarmos. Ela vai brigar muito comigo, mas depois vai me abraçar muito mais.

Mi, minha Mima, queríamos mais tempo, eu sei. Porém, agradeço a Deus por tudo ter sido como foi. Por termos feito tantas coisas juntas, pela vida ter sido boa e bonita até o fim, por todos os beijinhos, pelo colo que tive sempre e pelo carinho que nunca me faltou.

Amo-te muito e para sempre.
Amamos-te muito e para sempre. Fica bem, amor nosso. Amor meu, fica com Deus.


À minha mãe, Odila Jorge Paroli; nossa menina.

















2 comentários:

  1. Querida Mari,

    Que linda e merecida declaração de amor à sua mãe. Tenho certeza que ela sente muito orgulho e honrada ao ver a mulher que você se tornou com o apoio dela. Seu amor por ela com certeza é sentido onde ela está e que ela continua amanando toda luz e benção para você até o dia em que se reencontrarem. E fale sempre que precisar, minha amiga. Relembre os bons momentos e os de aprendizado também. Cada momento com sua mãe é uma jóia em sua vida. Saiba que se precisar de ombro, pode contar comigo e com certeza todos os seus queridos do coração. Um grande beijo!!!

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