domingo, 17 de janeiro de 2016

Doce


Doce

O doce de goiaba vermelho e denso borbulha na panela
e invade a cozinha com seu cheiro que conheço desde a infância.
Lembro-me de ti e do medo que tenho de que me fujam
as memórias sem mais poder te ver.
Tenho muito medo de te esquecer,
e esforço-me para me lembrar de cada detalhe de um rosto
que sempre esteve aqui.
Ele era meu também; ele era parte de mim.
E entre as lembranças, pequenas flores coloridas e miúdas aparecem,
tão pequenas que tenho que me debruçar sobre elas
para compreender toda a sua discreta beleza.
Minha passarinha, em minhas lembranças,
(tanto as antigas como as novas, as que invento agora)
estás sempre entre as flores como se elas sempre tivessem sido
a tua casa.
Agora, tu moras no jardim de casa e em todos os pequenos
vasos de plantas que cuido todos os dias.
Agora tu és flores coloridas,
folhas verdes e suaves,
és o cheiro de terra úmida que me invade.
No jardim de casa cresce, indiferente a tudo que se passou,
uma nova árvore;
cresce a tua goiabeira que um dia nos dará doces.


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