domingo, 31 de janeiro de 2016

TransBrasil



TransBrasil

Por algum motivo que nos foge à compreensão, um defeito de fabricação do protótipo humano quiçá, nos interessa a vida alheia como não deveria ser. Sem atinar nos porquês desta mania tão estéril, para além da razão primeira pela qual gostamos de comentar a vida dos outros, me parece que a falta de vida na nossa própria vida faz mesmo com que espichemos olhos e metamos narizes onde não somos chamados.

Este hábito feio e sem fundamentos alimenta a nossa curiosidade em saber uma porção de coisas que não nos dizem respeito e que, jamais à tarde, farão diferença d’alguma relevância em nossa existência. O porquê de sermos tão ávidos por nos intrometer na vida dos outros, apenas Deus, creio eu, um dia poderá nos segredar. Entretanto, tenho cá para mim que este é um teste no qual, desavergonhadamente, não passamos. Uma armadilha para checar se a humanidade já aprendeu o que vem a ser um ser-humano. Pois, falhamos tristemente.

Claro que há intromissões muito distintas e que têm reflexos muito diferentes na sociedade e na condição do indivíduo inserido nela. Há, por exemplo, a curiosidade parva de alguns pela vida de ricos e famosos que nada de útil produzem, produziram e/ou irão produzir em toda sua vida, mas isso nada mais é do que aquilo que em si mesmo encerra: uma tremenda parvoíce de quem tem tempo de sobra.

O problema torna-se muito sério, entretanto, quando imaginamos que temos o direito de exigir que as pessoas se comportem de uma determinada maneira e que podemos ditar, tal Deuses supremos da sabedoria, o que é certo fazer ou ser nesta vida. Pois, não temos, já que nunca nos foi dado, o direito de dizer como as outras pessoas devem ou não ser. Temos sim o livre arbítrio, que nos confere o poder de fazermos as nossas próprias escolhas e o dever de respeitar as escolhas feitas pelos outros.

No último dia 29 tivemos o dia da Visibilidade Trans para lembrar-nos de que os direitos civis de cidadãos brasileiros transgêneros não são respeitados cotidianamente apenas porque eles decidiram exercer um direito que é inerente à condição humana: usar seu livre arbítrio para decidir quem eles são.

Apesar de soar estranha a afirmação de que alguém corre risco de vida apenas por decidir de quem ela gosta, quem ela é ou como ela vai se vestir hoje, esta é uma realidade sombria de um país que se crê muito mais gentil e carinhoso do que ele realmente é. Pois, o Brasil, que é um país violento para todos nós, mostra suas garras de maneira mais feroz contra alguns de nós apenas porque somos como somos: por nossas crenças, nossa pele, a quantidade de dinheiro que guardamos no banco e carregamos na carteira, por nossa opção sexual, e etc. e tal.

Não sei se há muito a comemorar e se podemos dizer que a situação tem melhorado, já que os índices de violência têm crescido contra homossexuais e transgêneros; como contra quase todo cidadão brasileiro. Porém, é fato que todos os dias muitos meninos e meninas corajosos colocam a cara na rua e não deixam mais suas opções trancadas em armários.  O jovem brasileiro não se esconde mais, como se escondia quando eu era uma menina, e isso é muito bom, mesmo; de verdade.


Basta agora que todos nós compreendamos o nosso papel, que é bem simples e fácil, nesta estória: Nós temos que respeitar e lutar, todo santo dia, pelo direito de cada um.

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