domingo, 5 de março de 2017

Saudade



Saudade é coisa séria. Algo feito de uma matéria indestrutível, à prova do tempo e que existe em todo lugar neste mundo de meu Deus. Sentimento inerente à existência humana, pois não há ser humano normal que passe a vida toda a desconhecê-la. Com o passar dos anos a saudade que acompanha-nos, irmã siamesa que brota d’alma da gente, alimenta-se e cresce à medida que, pela vida, mais e mais gente faz parte de quem somos nós.  Como bem disse John Donne: “Ninguém é uma Ilha isolada... A morte de qualquer homem diminui-me.”.

Sim, apesar de sermos indivíduos únicos, seres unitários, quiçá sempre sozinhos pelo caminho, somos também a combinação de todos que fazem, fizeram e farão parte de nossas vidas: nossos pais, filhos, irmãos, amigos, vizinhos; o menino que conheci numa noite rara e que me pareceu um amigo de longa data de cara. Daniel tinha um lindo sorriso.

A verdade é que com o tempo vamos somando pedaços dos outros a quem somos, à la Frankenstein, e construímos uma vida baseada numa porção enorme de outras vidas que nos fazem uma falta danada. Então, a falta de tempo de estar com os outros nos chateia, as brigas nos magoam porque afastam quem queremos bem, os quilómetros que nos separam são uma sentença de desterro de nós mesmos. Sentimos saudade; muita saudade.

Como todo sentimento, saudade não pode ser medida realmente. Podemos dizer que é muita ou pouca, eu sei. Porém mesurá-la com exatidão é ciência que não foi descoberta ainda e, por isso, não é possível dizer de quem sentimos mais falta. Não existe isso. Como também não é verdadeiramente possível dizer com clareza a quem amamos mais. Amamos muito a muitos e pronto; ponto.

Contudo, e porque eu acho divertido e saudável contradizer a mim mesma, há dias em que uma ou outra falta aperta mais o peito. Mais do que deveria ser.  Pois, por esses dias ando com uma saudade aguda da Mima; saudades de dizer oi para ela e poder ouvi-la responder. Saudade de ti, Mima.

À Lucy e sua Mamis.



'No Man is an Island'

No man is an island entire of itself; every man
is a piece of the continent, a part of the main;
if a clod be washed away by the sea, Europe
is the less, as well as if a promontory were, as
well as any manner of thy friends or of thine
own were; any man's death diminishes me,
because I am involved in mankind.
And therefore never send to know for whom
the bell tolls; it tolls for thee.

John Donne


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