quarta-feira, 24 de maio de 2017

Das qualidades das saudades



Das qualidades das saudades


Não sei de que cor são as saudades alheias;
as minhas são azuis.
Azul bonito de manhãs sem nuvens dos dias de verão,
tão iluminado, tão claro  
que nos cega quando o olhamos de frente a olho nu.
Não sei de que cor são as saudades alheias, porém,
antes,
eu também não sabia que as saudades haviam de ter uma cor.
Pois elas têm.
Elas têm cor e têm cheiro. As minhas têm cheiro morno de colo
e dos abraços dados pelos seus braços onde eu quis morar.
Eu não sei de que cor são as saudades alheias. Só sei que as minhas
têm cor anil e a amplidão dos horizontes.
As minhas saudades têm cor, cheiro, e têm sabor.
Sabor doce de fruta fresca, comida de pé,
ao pé
do pé das frutas que cresciam nos jardins.
Nêspera, amora, pitanga e jabuticaba. Minhas saudades têm gosto de frutas roubadas,
comidas às escondidas, às gargalhadas.
Não sei qual a qualidade das saudades alheias, e delas pouco me interessa
saber. Porque as minhas são de uma qualidade matreira,
saudades ciumentas e egoístas
que comigo caminham de braço dado
todo santo dia.


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