terça-feira, 4 de outubro de 2011

O sabonete Íntimo

Eu e algumas amigas, muitos e muitos anos atrás.

Já há um bom tempo sinto certo estranhamento todas as vezes que começo o meu banho. Não é nada de foro íntimo, apesar da intimidade ser parte afetada em toda a coisa. Lá estou eu, a gastar mais água do que deveria, quando olho para o lado e, invariavelmente, lá está ele: o sabonete líquido íntimo. Sim, porque de uns anos para cá, nós mulheres nos sentimos desprotegidas caso o tal sabonete íntimo não esteja ali ao lado de seu irmão mais velho, o velho sabonete usado para o corpo inteiro. O que me faz pensar: Como vivi tantos anos sem este senhor que cá está se o tal respeita e serve para equilibrar o meu PH genital?  Meu Deus, eu lá sou um aquário para ter que ter o meu PH equilibrado? A tal música de Fagner, onde ele queria ser um peixe, fez mais sentido na minha vida do que fizera até este dia.
A verdade é que vivi muitos anos sem o tal sabonete íntimo, mas hoje não consigo voltar do mercado sem ele, o que me faz pensar sempre: Por que complicamos tanto a vida assim dando mais importância às coisas do que às pessoas? Quando foi que começamos a nos preocupar mais com cremes que esticam as rugas do que com os amigos que nos fazem rir até chorar e as reforçam? Que sentido faz, afinal, uma vida assim tão plástica, mas sem muito sentido já que a evitamos em prol de uma complexa e, ao mesmo tempo, vazia? Esquecemos que as coisas não têm importância alguma, eu também me esqueci disto, e passamos anos de nossas vidas focados em ganhar mais dinheiro porque precisamos comprar mais coisas do que faziam as nossas avós.
Sim, porque se antes meus vizinhos tinham nome para mim, hoje já não sei quem são porque mal os vejo. Dá-me saudade da época em que um telefone era apenas um telefone e não tinha que ter nome e sobrenome pra mim, do tempo que roupa podia ser qualquer uma desde que fosse bonita e confortável e que conhecíamos a dona da loja onde íamos comprar-la, uma senhora japonesa a qual chamávamos de Dona Maria. Não me lembro quando comecei a dar nomes aos objetos e a esquecer que apenas os nomes das pessoas deveriam ter importância para mim. Assim, deste jeito tão impessoal, o mundo me parece grande e vazio demais e eu, que ando saudosista ao extremo (deve ser reflexo da idade que avança a passos largos), lembrei de pessoas que fizeram parte de um mundo confortavelmente menor e mais aconchegante.  Um mundo onde o verdureiro tinha nome, o Expedito. Um lugar aonde o carteiro, o Jesus, vinha de vez em quando visitar-nos para partidas de voleibol no fim de semana, e o bar da esquina não era qualquer um, mas o do Sr. Japonês cujos filhos brincavam conosco na rua todas as tardes depois da escola.
O tempo passou e jamais voltará atrás, eu sei, eu sei. Então resta-nos aprender a viver com este que aqui está. Eu sei também. Entretanto, vale à pena colocar as coisas em seus devidos lugares de quando em vez, não? Não prometo deixar de usar o tal sabonete famigerado, acho que este hábito já é mais forte do que eu. Mas creio que devo tentar esquecer um pouco as coisas e preocupar-me mais com as pessoas que dão, para mim, o único sentido que a minha vida pode ter.
Um beijo saudoso e quentinho para todos, e um abraço tão longo quanto os discursos do Fidel. Boa semana!

Um comentário:

  1. Muito estranho ler um texto que começa com sabonete íntimo e termina com Fidel Castro ... Hehehe

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