quarta-feira, 19 de março de 2014

Não é o que não pode ser?



Por estes dias o que mais me parece certo é que o que não pode ser, às vezes, muitas vezes, é. E se a lógica já não fazia muito sentido no âmbito daquilo que sentimos, ela anda a perder terreno naquilo que parecia seu habitat – os fatos e nossas ações.

Se o certo é que deve sempre haver a tal da razão em tudo que fazemos, estamos mesmo muito perdidos atualmente. Há quinze dias seria loucura imaginarmos que um avião cheio de gente podia simplesmente desaparecer sem deixar rastros, como se pudesse se esconder por detrás de uma nuvem qualquer, no ar. Contudo, e se isso já parecia desafiar a razão que as coisas devem ter, no último domingo, aqui no Rio de Janeiro, (um lugar bem mais próximo e real do que nos céus da Malásia), aconteceu algo que desafia toda a lógica e a razão que qualquer pessoa neste mundo pode conhecer.


No domingo, policiais militares, à plena luz do dia, trataram uma mulher como se fosse alguma coisa qualquer, um saco de batatas ou lixo, e a jogaram de qualquer maneira no porta-malas da viatura que, por um motivo inexplicável também, parecia ter pressa para levar a tal senhora ferida ao hospital. Difícil crer que no ato houve qualquer intenção de ajudá-la, de salvá-la. Parecia haver, isso sim, a pressa de se esconder algo errado, uma falha, um ato grave e equivocado que a tal polícia cometera.

Pois o descaso, a falta de qualquer pudor humano que os tais policiais deveriam ter, resultou numa das cenas mais cruéis que já vi nesta vida. Como se estivesse a ver um faroeste à italiana, eu vi a senhora Claudia Silva Ferreira ser arrastada pelo carro da polícia, presa ao para-choque traseiro, pelas ruas do Rio de Janeiro por alguns metros. Não queria vê-lo. Fugi do vídeo e da cena durante toda a segunda-feira, porém, a realidade impõe-se sempre. Esteja ela plena de lógica ou o seu oposto.

Lembrei-me de uma cena vista há anos e que ainda me assombra frequentemente. Há anos, vi uma reportagem de como são feitos casacos de pele e um homem a esfolar um animal atordoado, mas ainda vivo, que gemia baixo de dor. Chorei. Achei aquela a maior atrocidade que eu já tinha visto, mas, infelizmente, agora a cena foi superada.

Não importando se a senhora Cláudia estava já morta ou não, e o quanto ela pôde sentir de tudo o que aconteceu. A falta de respeito à vida demonstrada por estes brasileiros que deveriam cuidar da vida humana foi, é, assombrosa; uma atrocidade inexplicável. Uma mulher inocente foi baleada e arrastada pelas ruas da cidade onde ela morava, e isso ultrapassa qualquer falta de razão que possa haver nesta vida. Entre tantos absurdos, me parece que o que não pode ser, é. E a pergunta que me vem à mente é se a única coisa que podemos fazer é continuar a chorar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário