sexta-feira, 21 de março de 2014

O Apocalipse da Comunicação Interpessoal






Quem trabalha na área de informática, como eu, já sabe que o uso de expressões ou palavras inglesas aportuguesadas é extremamente comum (infelizmente). Um dia ouvi um colega do meu lado pedindo para eu “updeitar o registro de uma tabela”. Tal frase veio acompanhada de uma onda de choque, como que um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral chamando minha atenção sobre o que eu tinha acabado de escutar. Apenas para situar aqueles que não são da área de tecnologia, as ferramentas de desenvolvimento de software são todas em inglês, o que promove o neologismo que aportuguesa expressões fornecidas pelas ferramentas. “Updeitar” o registro nada mais é que atualizá-lo, do verbo update em inglês. Não quero parecer um purista protestando nas ruas o uso de nossa língua como única forma de expressar. Moro em um país com sua identidade cultural formada por vários povos e certas expressões são mais do que bem vindas, mas temos que colocar um limite nisso. Cada vez mais eu vejo a banalização injustificável nos novos vocábulos. “Vou invoiçar o cliente para o fabricante shippar o produto”. Onde diabos estamos? Por que não dizer “faturar” (invoice) o cliente, ou mesmo “enviar” ao invés de adaptar o verbo “ship”? E não para por aí! As aberrações vão além e prefiro não me estender para não romper outra veia em meu cérebro já comprometido. Antes nossa preocupação era com concordâncias e gerundismos, porém a lei de Murphy vem nos provar que “nada é tão ruim que não possa ficar pior”. Vejo isso como um reflexo de uma sociedade que prefere manter-se na ignorância, prefere não pensar; ouve funk e obriga os outros ao seu redor a ouvirem também; que ao invés de ler um bom livro prefere assistir Big Brother com seus “heróis” que defendem a morte de soropositivos para erradicar a AIDS (digo SIDA). Passamos pelas reformas (ou quase reformas) econômicas com Fernando Henrique e sociais com Luis “Lula” Inácio. Agora fico esperando pela chegada da reforma moral, usando mouse em meu laptop, indo aos Shoppings para adquirir produtos On Sale; comendo uma carne ao molho barbecue; bebendo sucos diet. E ao invés de ligar no meu smart-phone, mande seu feedback por e-mail, já que hoje faço home-office, mas talvez demore para responder, pois tenho que pagar contas pelo internet-banking, OK?


Obs.: Você entenderia o final se fosse somente escrito em português? 
(“...usando o rato no meu computador portátil; indo aos centros de compra para adquirir produtos em promoção; comendo carne ao molho de churrasco; bebendo sucos dietéticos. E ao invés de ligar no meu telefone móvel inteligente, mande sua retroalimentação por correio eletrônico, já que hoje trabalho de casa mas talvez demore para responder, pois tenho que pagar contas pelo acesso da rede de meu banco.”) 

Texto do amigo (mais que querido) de longa data, 
Luís Fernando Castro Costa.

Obrigada pelo presente!


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