quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Sampa



Sampa

Tão linda e cinza como uma triste obra esquecida no meio da rotina,
respira com dificuldade nas tardes abafadas de verão
a minha cidade. Nossa menina.
Ruas e avenidas de tantas gentes a fazem plena, cheia de cantos e recantos
onde nos escondemos do mundo para além de nossas tribos
e encontramos quem somos.
Aqui fomos crianças e aprendemos a beber,
a dançar,
a fumar, e a foder.
Aprendemos a ser gente grande e a andar pelas ruas, sozinhos,
donos de nós mesmos e ainda
insipientes. Meninos.
Amamos esta terra cinza gerada por muitos,
lar de todos;
nossa terra de ninguém que não sabe ser gentil logo de cara
e que nos encara gigantesca e ameaçadora,
amazona tupiniquim impiedosa a dizer: vem. Nossa dona.
E eu vou, apesar de meu desterro voluntário, eu venho.
Eu volto sempre para ela
cheia de saudades eternas para me lembrar quem sou,
porque sei que faço parte dela
e  que sou feita desta terra;
eu sou o seu pó.


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