domingo, 11 de junho de 2017

Dias de Lagarta



Dias de Lagarta

A nossa vida muda porque nós assim queremos. Pois, isso é um fato. Porém é verdade, também, que antes de a mudarmos, por ela somos, à revelia, transformados. Sem percebermos o que realmente está a acontecer, feito lagarta, mudamos lenta e definitivamente. De modo que, depois de algum tempo, já não somos mais os mesmos e a vida que ainda vivemos já não nos cabe mais.

E apesar de todos os medos, apesar do apego que temos pela tão amada rotina, apesar de sentirmo-nos em casa com a vida conhecida, apesar de o amor ser ainda verdadeiro por quem está em nossa companhia. Afinal, apesar de todos os pesares que as mudanças trazem, chega o instante de mudar.

Bom, pode ser que a vida não seja desta forma para todos nós. Pode ser. Porém, para mim me parece que a mudança é algo tão inerente à vida que sem ela a tal vida não seria possível. Sem as mudanças sentir-me-ia parada no tempo, estaria perto do fim. E esse não é o tipo de vida que quero para mim.

Os dias que vivemos no Brasil, que eu vivo, são tempos de mudança nos quais o futuro mostra-se mais incerto e nebuloso que dantes se mostrava.  E eu, apesar de sentir-me um tanto quanto assustada, sinto-me mais do que tudo curiosa com o que está por vir. Pois, toda mudança dá-me medo, o mesmo medo que me dão os aviões, (ou seja, um quase pânico), mesmo assim, quero sempre que a vida para frente caminhe como continuo a querer viajar. Porque os medos, até os muito grandes, foram feitos para a gente superar.


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa


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