Manhãs de Domingo
Hoje pela manhã,
logo depois de acordar, peguei-me arrumando a cozinha de um sábado à noite. Algumas
garrafas de bebida a serem lavadas, o lixo a ser posto para fora, alguns pratos
e copos na pia. Nenhuma novidade fosse esse lixo algo que eu produzira. Não era.
Doente, deitei-me cedo, por volta das 22:30h, e dormi profundamente até a manhã
de domingo.
A pequena
bagunça pertencia aos meus miúdos crescidos e amigos. Coisa pouca, verdade. Contudo
peguei-me a pensar que injustiça cruel era aquela. Por que afinal deveria eu
limpar o lixo alheio? Sim, tenho meus rompantes egoístas com uma frequência assustadora.
Uma vergonha! Eu sei. Porém, como de costume em meus diálogos solitários, logo me
veio à cabeça a resposta certa para tal questão. Perguntei-me quantas vezes
meus pais tinham feito este mesmo gesto por mim. Quantas vezes minha mãe e meu
pai limparam a minha bagunça? Bem, não sei. Dezenas de vezes com certeza, centenas
de vezes, talvez.
O fato é que
mesmo sem de fato o ser, deixei de fazer o papel de filha na história da minha
vida, da nossa vida, e cumpro há algum tempo o papel de mãe. Uma mãe torta, fruto
de uma família um tanto fora do comum, concordo. Entretanto, não percebo que o
amor pudesse ser maior e mais bonito se a família tivesse sido formada de outra
maneira. Amo aos meus miúdos; eles são meus também, tanto quanto eu sou deles,
e isso, nada, nem mesmo todo o tempo do mundo, poderá mudar.
Nessa semana muitas
famílias sofreram e sofrem com dois terríveis incêndios que mataram mais de uma
centena de pessoas. Famílias inteiras morreram presas em suas casas em Londres
porque à segurança do edifício onde viviam pouca atenção e importância foi dada.
Famílias inteiras desapareceram nas estradas de Portugal na tentativa de
escapar das chamas de um incêndio florestal sem culpados e sem precedentes. E eu,
na segurança da minha manhã de domingo, não consigo medir o tamanho da dor que
eu sentiria em situações como estas.
Por isso, essa semana,
mais do que antes, sinto-me bem, mais feliz do que nunca, em ter que organizar
a bagunça que os pequenos, e os não tão pequenos deixam pela casa sempre que
estão aqui. Eles estão por aqui, eles estão bem; e isso é, fundamentalmente, a
única coisa que importa nesta vida. Que venham muitas e muitas manhãs de
domingo como esta! Amém.
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