domingo, 18 de junho de 2017

Manhãs de Domingo


Manhãs de Domingo

Hoje pela manhã, logo depois de acordar, peguei-me arrumando a cozinha de um sábado à noite. Algumas garrafas de bebida a serem lavadas, o lixo a ser posto para fora, alguns pratos e copos na pia. Nenhuma novidade fosse esse lixo algo que eu produzira. Não era. Doente, deitei-me cedo, por volta das 22:30h, e dormi profundamente até a manhã de domingo.

A pequena bagunça pertencia aos meus miúdos crescidos e amigos. Coisa pouca, verdade. Contudo peguei-me a pensar que injustiça cruel era aquela. Por que afinal deveria eu limpar o lixo alheio? Sim, tenho meus rompantes egoístas com uma frequência assustadora. Uma vergonha! Eu sei. Porém, como de costume em meus diálogos solitários, logo me veio à cabeça a resposta certa para tal questão. Perguntei-me quantas vezes meus pais tinham feito este mesmo gesto por mim. Quantas vezes minha mãe e meu pai limparam a minha bagunça? Bem, não sei. Dezenas de vezes com certeza, centenas de vezes, talvez.

O fato é que mesmo sem de fato o ser, deixei de fazer o papel de filha na história da minha vida, da nossa vida, e cumpro há algum tempo o papel de mãe. Uma mãe torta, fruto de uma família um tanto fora do comum, concordo. Entretanto, não percebo que o amor pudesse ser maior e mais bonito se a família tivesse sido formada de outra maneira. Amo aos meus miúdos; eles são meus também, tanto quanto eu sou deles, e isso, nada, nem mesmo todo o tempo do mundo, poderá mudar.

Nessa semana muitas famílias sofreram e sofrem com dois terríveis incêndios que mataram mais de uma centena de pessoas. Famílias inteiras morreram presas em suas casas em Londres porque à segurança do edifício onde viviam pouca atenção e importância foi dada. Famílias inteiras desapareceram nas estradas de Portugal na tentativa de escapar das chamas de um incêndio florestal sem culpados e sem precedentes. E eu, na segurança da minha manhã de domingo, não consigo medir o tamanho da dor que eu sentiria em situações como estas.


Por isso, essa semana, mais do que antes, sinto-me bem, mais feliz do que nunca, em ter que organizar a bagunça que os pequenos, e os não tão pequenos deixam pela casa sempre que estão aqui. Eles estão por aqui, eles estão bem; e isso é, fundamentalmente, a única coisa que importa nesta vida. Que venham muitas e muitas manhãs de domingo como esta! Amém. 

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