terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Saudades Brilhantes


Saudades Brilhantes
Quando eu era muito mais jovem do que hoje, menina mesmo, a ideia de que algum dia, num futuro longínquo, eu morreria assustava-me muito. Sentia-me em pânico, paralisada pelo desespero que me dava a lembrança de que minha vida seria finita. Pois 1, apesar de ser algo óbvio afinal todos morreremos um dia, a verdade é que ignoramos que a morte seja algo real a maioria do tempo. A verdade é que sempre achamos que temos mais tempo, e que sempre será cedo.

Como bem dizia minha mãe: “não nascemos para ser semente”, ou seja, não estaremos aqui parados em estado latente para sempre. A mudança é parte integrante de quem somos e está impressa em nosso DNA, portanto, a transformação será Ad Eternum nossa sina. Nascemos para crescer, aprender e aprender mais. Para nos transformarmos; para mudar uma e tantas outras vezes antes da mudança definitivamente deste planeta.  Seremos então anjo, uma energia, alma penada, e etc. e tal.

Há alguns anos perdi completamente o medo da morte, apesar de ainda temer muitas das maneiras de morrer. Como canta Gilberto Gil: “Não tenho medo da morte, mas sim medo de morrer... É que a morte já é depois que eu deixar de respirar. Morrer ainda é aqui... Ainda pode haver dor ou vontade de mijar.” Pois 2, com o passar do tempo eu aprendi e compreendi que a minha morte será aquela menos sentida por mim. De mim mesma não sentirei saudades, não haverá lágrimas nos meus olhos pela minha morte; e eu não sentirei falta do meu abraço e de ouvir a minha própria voz. Mais do que medo, atualmente sinto uma curiosidade interessante. Como será o lado de lá?

Muito mais difícil que morrer é perder a alguém que amamos; fato. A perda de quem amamos é dor estranha que não passa e que se torna nossa companheira diária; uma espécie de mágoa que nos transforma definitivamente. Eu, por exemplo, sinto-me diferente depois que a Mima voltou a ser anjo. Sem a Dona Odila aqui me faltam uns pedaços, feito um quebra-cabeça que perdeu algumas peças. Ainda sou eu, porém, agora há alguns espaços vazios e sou diferente.

Bom, c’est la vie! Já somos adultos e a vida continua. E depois de um tempo, ela volta a ser muito boa. Volta a ser a vida de sempre com seus altos e baixos; com direito a dias mais tristonhos e outros alegres por demais da conta. Com o tempo, aprendemos que as saudades de todos e de cada um tem seu espaço dentro da gente. Afinal, nosso coração figurativo, aquele onde guardamos os sentimentos, terá sempre mais espaço para os amores e as saudades boas.


A verdade, é que mais do que a morte de minha mãe, vê-la sofrer me apavorava. Ela não merecia; ninguém merece. Lembro-me de pedir a Deus que ela não sofresse sem me importar o quanto tempo teríamos. Ela poderia ir antes de sofrer mais do que pouco; essa era a única coisa que eu queria. E assim foi, e eu sou grata a Deus. Vê-la partir foi milhares de vezes mais fácil do que vê-la sofrer. Sendo assim, desejo a todos que o sofrimento nesta vida seja bem pouco, pouquinho mesmo, e que as saudades dos que amam sejam bonitas e boas como as minhas saudades da Mima são. E elas são brilhantes. Amém!

Um abraço apertado ao Dani, meu amigo e afilhado.


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