domingo, 3 de julho de 2011

Inexoravelmente bom

 

Desde criança nos acostumamos a ouvir que a infância é o melhor tempo de nossas vidas, que logo tudo isso passará e que não a teremos mais. Sim, o tempo passa para todos nós. Entretanto, mesmo sendo uma destas pessoas que já repetiu milhões de vezes que esta tal passagem do tempo é terrível, devo reconhecer que não é bem assim. Tudo bem que ficamos mais velhos por fora de modo indecente, pois cá vêm as rugas, cabelos brancos e, o pior de tudo: dá-lhe ginástica para que a bunda e outras partes dantes tão desejadas e queridas não se tornem apenas um peso a mais no corpo. Sim 2, envelhecer neste sentido é terrível e, então, o tempo parece mesmo inexorável como o mais cruel dos desalmados. Contudo, e sempre haverá um “contudo” a mostrar-nos que há um lado bom em tudo, se pensarmos em tudo que ganhamos com a passagem do tal do tempo, percebemos que só temos a agradecer.
Sim 3, a passagem do tempo é boa, boníssima mesmo. Sem ela ainda seríamos crianças, eternamente presos a um estado de vida onde tudo ainda está por vir e, por isso mesmo, quase nada aconteceu. E esta idéia me assusta muito mais do que pensar que um dia serei uma velhinha maluca e folgada. Disso não tenho dúvidas! Com o tempo, o corpo padece sim, mas a alma cresce e se liberta de mitos, regras, medos e dúvidas que antes nos perturbavam a existência e, então, temos uma vida mais intensa, bela e divertida. Bem, para mim tem sido assim e espero que para todos seja também, pois isso é muito bom.
Ontem celebramos, de forma adiantada, o aniversário de 14 anos de meu primeiro “step-sobrinho” Fábio Antônio, um rapaz que aos 2 anos corria nu pela casa pois teimava em não vestir roupa alguma, e que já me fez rir e ralhar com ele muitas vezes nestes anos. Um gigante menino que me mostrou ontem com seu riso fácil que, apesar de hoje vermos todo aquele tamanho, ainda mora ali o bebê danado que cismava que roupa era uma besteira.  E lá vem o Sim 4! Ganhamos pessoas, experiências, sentimentos e memórias com o tempo, somando mais vida a vida que temos como se desta forma nos multiplicássemos em muitos seres. Hoje não sou mais a menina tímida que fui aos 5 anos de idade, mas ela ainda está aqui com todas as outras meninas, moças e mulheres que se somaram dentro de mim. Sou todas elas graças à passagem do tempo e, à ele, devo toda a riqueza que carrego comigo.
Chego à conclusão paradoxal, que o tempo é, com toda certeza, inexoravelmente bom. Sem ele não haveria a palavra saudade, não haveria os abraços longos como o de ontem entre o meu querido Lucas (meu primeiro filho do coração) e eu, pois já não nos víamos há um ano mais ou menos. Que saudade! Saudade do meu menino que tantas vezes esteve comigo, de nossas tardes sozinhos na praia, nossas milhares de idas ao cinema e nosso domingo no estádio a torcer pelo nosso Corinthians do coração! Sem o tempo eu não teria a tantos de meus amigos, não teria visto nascerem e crescerem seus filhos, não teria conhecido meus novos amores e, não estaria hoje, imaginando o que virá depois de tudo isso.
Sei que o tempo também leva aqueles que amamos, e este será o único senão na carreira deste senhor que nos faz evoluir todos os dias. Que ele nos ensine também que devemos ser fortes e que devemos sempre aproveitar o tempo que temos hoje e sempre. Vale agora terminar o blábláblá de hoje com meu querido Fernando Pessoa que sabia da vida e do tempo muito mais do que eu: Que venha a aventura de viver!
Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

A meus pais, que amo incondicionalmente e que me dão mais do que mereço. Meus anjos hoje e sempre.
Boa semana a todos e que ainda tenhamos muito tempo.
Um beijo.

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