quarta-feira, 18 de março de 2015

Terra Brasilis e suas lavagens sem muito sabão



No início dos anos 80, depois de quase duas décadas de ditadura no Brasil, eu ainda era muito menina e não compreendia completamente o que significava a reabertura política de meu país. Havia gente voltando do exílio, começava um movimento por eleições diretas no país e alguns horrores do que havia ocorrido nos anos de chumbo se descortinavam com palavras que me assustavam: censura, tortura, mortos, desaparecidos. Trinta anos atrás no dia de hoje, 15 de Março de 1985, tínhamos novamente um presidente civil eleito; não por eleições diretas como queríamos é verdade, contudo ainda assim tal acontecimento tinha um peso grandioso em nossas vidas. Finalmente vivíamos numa democracia mais uma vez.

Depois de nosso primeiro presidente civil, o Sr. José Sarney (homem que não chega a ser um exemplo de caráter a ser seguido), elegemos a Fernando Collor de Mello através do voto direto. Em 1992, apenas dois anos depois, tínhamos um processo de impeachment instaurado e a subseqüente renúncia de um presidente que se sabia condenado por corrupção e Caixa 2. Saímos às ruas de “caras pintadas” e no dia 29 de setembro, dia do meu aniversário, Collor deixava a presidência do Brasil e Itamar Franco assumia seu lugar.  O Brasil não perdeu nada com isso, a jovem democracia não perdeu nada com isso, todos nós não perdemos nada com isso e, além disso, e por isso, já deveríamos ter aprendido que uma troca de presidente não nos afeta tanto assim. Nós não dependemos no passado e não dependeremos nunca de um homem ou mulher. Não há salvadores da pátria, deve apenas haver competência e trabalho sério.

Apesar de não achar que um impeachment seja a solução única e derradeira para todos os nossos problemas, nem mesmo o problema da corrupção. E mesmo sabendo que ainda é cedo demais para sabermos o que realmente acontecerá nos “finalmentes”. Vale lembrar que Collor foi destituído por muito menos e não me lembro de ninguém a chamar o que houve de antidemocrático; muito pelo contrário. Vale também lembrar que Dilma foi presidente do Conselho de Administração da Petrobrás por oito anos até 2010, Ministra de Minas e Energia e Ministra-Chefe da Casa Civil enquanto o esquema Petrobrás era posto em andamento. Vale, ainda, lembrar que grande parte do dinheiro desviado da mesma Petrobrás foi utilizada para financiar a campanha de Dilma Rousseff.  Portanto, crer na inocência da Presidente de nosso país nesta situação chega a ser uma ofensa à inteligência de qualquer um, não?

Costumo dizer que o PT no poder acabou com minhas últimas ilusões nesta vida, feito a crença nos príncipes encantados que tanto pertence ao imaginário de qualquer menina. Emocionei-me quando Lula tomou posse pela primeira vez, pois sempre acreditei que o PT faria tudo de maneira diferente; que pela primeira vez na história deste país um homem como todos nós, um trabalhador, estaria no poder e isso faria muita diferença. Fui mesmo parva no mais alto grau da parvoíce que se pode ser, porque para mim, com o Escândalo do Mensalão de 2005, ficou claro que Lula e todos os seus não eram em nada diferentes. Eles eram corruptos; escandalosamente corruptos.

Hoje não consigo entender como ainda há quem defenda o PT e os seus já que roubo é roubo e não há conjecturas a serem feitas a este respeito, não há argumentos históricos que justifiquem o atual aparelhamento do Estado Brasileiro feito com um único intuito: perpetuar o Partido dos Trabalhadores no poder. E nesse ponto me questiono, falando em democracia, o quão democrático é vivermos num país onde não há o revezamento no poder. Onde a oposição praticamente não existe, ou não existiu durante muitos anos. Onde a máquina estatal tem sido avolumada paulatina e inexoravelmente para a boa manutenção de um voraz Congresso Nacional satisfeito a comer tão opulentamente na mão do Executivo Federal.

Não sou santa, claro que não. Já bebi e dirigi como qualquer adolescente faz uma ou mais vezes na vida; vez ou outra, baixo músicas da internet sem pagar direitos autorais. Tenho meus pecados como todo ser humano os tem, e também sei que a corrupção já existe há muito tempo; desde que a nossa “Terra Brasilis” é mundo. Entretanto não compreendo como tais coisas, os pecados alheios ou pretéritos, sejam justificativas ou desculpas plausíveis para toda a corrupção fomentada pelo PT, PMDB, PP e outros Ps mais. Afinal, roubo ainda é crime no Brasil, não?

Sei que muita besteira tem sido dita por aí, e que até chegamos ao ponto de ver gente a carregar anacrônicas e absurdas faixas a pedir a volta de uma ditadura militar. Meu Deus, quanta ignorância! Eu sei.  Contudo, devemos lembrar que este povo mal informado e “assassino-confesso-da-língua-portuguesa” que anda por aí vive há mais de 10 anos sob a égide do Partido dos Trabalhadores que, apesar de tanto falar em educação, pouquíssimo tem feito por ela.


Sei também que a idéia de termos um Michel Temer como presidente do Brasil dá-nos calafrios pela espinha abaixo. Realmente a nossa situação não está nada cômoda, não senhor. Mas ficam cá as perguntas para um exercício de reflexão sobre toda a situação: O que teria sido do Brasil 20 anos atrás se tivéssemos sido tão lenientes com Collor como fomos com Lula e o PT no Mensalão? O que seria do Brasil hoje se tivéssemos sido tão rigorosos com o Lula 10 anos atrás como fomos com Fernando Collor de Mello? Collor que, por sinal, anda de mãos dadas ao PT e está de volta à cena da corrupção nacional? Collor, PMDB, Temer, Calheiros... Pois, o Mundo dá mesmo as suas voltas sem sair do lugar, não?

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