terça-feira, 26 de maio de 2015

A viver dentro de dois braços, entre abraços




A viver dentro de dois braços, entre abraços

A partir de amanhã, bem cedo, tiro férias de mim mesma por quase quinze dias numa espécie de refresco para a alma. Terei dias nos quais me esquecerei um pouco do drama existencial, quando deixarei para lá as neuroses e o meu mau humor, dias onde não encontrarei os tais pêlos que cismo em achar nos ovos. A partir de amanhã deixo um pouco de ser Mari para ser, orgulhosamente, madrinha.

Não é a primeira vez que a tal dádiva ocorre, é verdade. E a verdade é que até já escrevi sobre a tal aventura encantadora por cá. Contudo, o mesmo sempre será diferente já que a vida, como o mar que vejo da minha janela, segue sendo a mesma e, concomitantemente, muda sempre e chega como novidade diante da gente. Pois... Não sei se mudam os olhos ou a paisagem diante deles, mas basta parar um pouco para perceber que todo santo dia o azul do mar está diferente.

E assim, diferentes serão estas férias de mim mesma com os meus pequenos porque nem eles, e muito menos eu, somos os mesmos. E entre todas as mesmas coisas antigas que chegam de maneira inédita na vida, sei que haverá muitos abraços. Abraços com manha, abraços alegres, abraços cheios de sono, abraços feitos de puro carinho; abraços que farão com que meus braços sintam-se mais importantes e amados do que normalmente eles são.

E foi pensando em tais abraços futuros com os meus miúdos no meu colo, (e eu tão contente por tê-los ao colo), que percebi que em realidade quem ganha o conforto e o carinho nestes momentos sou eu. Pois que, se a gente parar para pensar, a verdade é que é a nossa alma que ganha os tais abraços dos seus pequenos. Porque ali, entre os jovens bracinhos, some o mundo e todos os nossos problemas e nós somos, simplesmente, felizes. Felizes como nunca fomos dantes abraçados por um amor que só conhecemos no momento no qual chegam ao nosso colo os nossos pequenos. 

Então, a partir de amanhã, sou madrinha a sorrir, parva e apaixonada, durante todo o dia. Que venham as férias d’alma mais uma vez!





“Oriol Vall, que se ocupa de los recién nacidos en un hospital de Barcelona, dice que el primer gesto humano es el abrazo. Después de salir al mundo, al principio de sus días, los bebés manotean, como buscando a alguien.

Otros médicos, que se ocupan de los ya vividos, dicen que los viejos, al fin de sus días, mueren queriendo alzar los brazos.

Y así es la cosa, por muchas vueltas que le demos al asunto, y por muchas palabras que le pongamos, así es la cosa. A eso, así de simple, se reduce todo: entre dos aleteos, sin más explicación, transcurre el viaje”.


Eduardo Galeano, “El viaje”, Bocas del tiempo (Siglo XXI)

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