domingo, 17 de maio de 2015

Abandonados


Abandonados

Adoro viajar, (como quase todo ser humano que conheço), porque tenho em mim uma vontade gigante de ver o mundo; de ver como há coisas tão distintas daquelas que encontro no meu quintal. E é mesmo muito bom poder sair da minha rotina e do meu habitat, da segurança do meu mundo particular, conhecido e controlado para me sentir renovada e pronta para mais dias e dias daquilo que parece me chatear, mas que na verdade me agrada em demasia: a minha vida de todo santo dia.

E, para o meu próprio espanto um tanto incrédulo para com os meus sentimentos, a verdade é que, apesar de amar isso de viajar, sinto-me perdida fora da minha “Terra Brasilis” nada santa e cheia de defeitos, preconceitos e detentora de problemas e injustiças sociais que nos embrulham o estômago e sempre quero voltar. É, vivo num país de merda, (com o perdão da palavra, mas creio que as merdas que aqui ocorrem e que bem conhecemos dão a “licença poética” para o baixo calão), contudo, é neste país de merda que me sinto em casa. Difícil isso, não?

Pois, mais difícil ainda deve ser sentir-se perdido em seu próprio país e ter que partir. Quando partir é a única solução possível que se apresenta para alguém que se sente parte de sua terra, mas que ali já não pode mais estar, o sentimento de abandono que invade o emigrante deve ser gigantesco. Tudo fica para trás: a casa, a cultura, a língua, os amigos, a família, os caminhos conhecidos, o céu de todos os dias, a identidade própria de quem se é. E então, se está completamente perdido sobre a Terra a perceber que neste mundo não há um lugar para você.

Nesta última viagem, muito para além de monumentos, museus e estátuas, vi muitos imigrantes vindos da África e do Oriente Médio pelas ruas de todas as cidades da Europa; muito mais do que há três anos. E o fato me magoou um bocado. Não por eles lá estarem, não senhor, mas pelo fato de saber que aquilo era o melhor que havia para eles. Que aquilo de estar pelas esquinas a vender qualquer coisa, com medo da polícia, num país de gente que não te quer ali é muito melhor do que estar em sua terra natal. E me pergunto, sendo moradora de um país de merda e, mesmo assim, sempre a voltar feliz para ele, qual o tamanho das dificuldades que estes homens e mulheres tiveram que enfrentar para decidir partir? A resposta: a fome, a guerra, a violência, a dor, a morte.


Bem, hoje se discute muito o direito de emigrar versus o direito que os países têm, ou podem ter, de simplesmente fechar suas portas aos de fora e deixá-los à sua sorte; ou a completa falta dela. E eu, brasileira e mestiça como quase todos os da minha terra que foi construída por imigrantes, me pergunto como podemos deixar estas pessoas à sua sorte no meio de um caminho sem volta? Como podemos abandoná-los à fome, à guerra, à violência, à dor e à morte. Não podemos, e isso deveria nos envergonhar profundamente. Vale lembrar que somos todos seres humanos e que o Mundo é, equitativamente, nosso; ou que assim deveria ser. Pois, ou o Mundo é a casa de todos ou não será um bom lugar para ninguém.

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