quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O Bufão sobe ao Trono


O Bufão sobe ao Trono

Por hábito, e por haver um bom fundo de verdade nisso, há anos chamo o presidente dos Estados Unidos de “o presidente do mundo”.  E se esta sempre foi uma piada de mau gosto em certa medida, afinal mostrava com tom zombeteiro, porém subserviente, o meu reconhecimento de quem eram os donos do mundo como o conheço; do meu mundo americano principalmente. Nesta semana a tal brincadeira jocosa terá seus graus de gravidade e seriedade elevados a uma potência gigantesca. Nesta semana Donald Trump será coroado rei do mundo e isso não tem graça alguma, pois que a comédia num exagero histriônico tornou-se, após uma curva mal feita à direita, uma súbita tragédia.

Claro que não faltam problemas muito sérios em meu país que mergulha de cabeça numa instabilidade social e econômica ímpares, e estas deveriam obter todo o meu foco e atenção. Sim, sobram-nos mazelas domésticas há muito conhecidas e agravadas paulatinamente pela ineficiência com a qual nos gerimos há muito tempo, ou desde sempre, como nação. Verdade. Entretanto, ver o Sr. Trump, um fanfarrão contumaz, a assumir a presidência dos Estados Unidades após os dois mandatos do sempre gentil, correto e elegante, além de muito carismático, Obama, dói-me n’alma.

Não é nada gratificante perceber que um homem com nenhuma inclinação ao altruísmo, que antes de tudo e mais nada se preocupa apenas com o que versa sobre o seu umbigo e que demonstra um verdadeiro desprezo pela humanidade no geral será o presidente de um país com tanto poder e influência sobre tudo o que se passa neste planeta. Muito para além disso, fica por cá a dúvida de como uma grande parcela da população americana pôde crer num homem que faz da falácia um hábito, e do deboche um lema. Falta de discernimento e informação ou uma crítica radical ao atual establishment? Seja lá qual o real motivo que levou a esta escolha tão esdrúxula, creio que houve um erro de julgamento fatal.

Arrogante o bastante para não perceber suas limitações, ademais de muito preconceituoso, o Sr. Trump prega uma política econômica protecionista e nacionalista que já não tem mais lugar no mundo moderno. Engodo este, aliás, muito utilizado por aqueles que querem convencer aos milhões de cidadãos com palas nas vistas. Afinal, não há nada mais fácil e cômodo do que buscar nas minorias, nos estrangeiros e em outros países todos os motivos para a falência da economia doméstica de cada um.

Muito ao revés do que prega o recém-eleito presidente americano, o fato é que os Estados Unidos perderam seu papel hegemônico na política mundial e veem, pouco a pouco, chegar ao fim seu status de superpotência econômica única. Quiçá muito mais brevemente do que imaginávamos com a ajuda do grande magnata da esperteza que poderá fazer muita coisa em seu país, contudo, não irá fazer a “América” grande outra vez.

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