domingo, 6 de setembro de 2015

Indiferentes


Indiferentes

Em alguns momentos durante nossa vida e por motivos nada nobres todos nós, homens e mulheres, damos demonstrações de que a nossa capacidade de compreender o outro, de o reconhecermos como um de nós, falha terrivelmente. De repente, a tal da empatia vai por água abaixo e nos tornamos pequenos monstros, psicopatas quase inofensivos que, apesar de não serem capazes de matar ninguém, tão pouco são capazes de estender a mão para salvar alguém. Por que todos nós temos a capacidade de ignorar o sofrimento alheio? Não deveria ser assim, deveria?

O fato é que seja por qual motivo for – pela falta de dinheiro no bolso do paletó, pela cor da pele que reveste o corpo, pela crença que o outro sustenta, pelo pedaço de terra onde calhou à outra pessoa nascer, por quem se sente tesão, por ter nascido mulher ou, simplesmente, por ser um pouco diferente – nenhum deles deveria interferir em nossa capacidade de perceber que  ali está outro ser humano feito da mesma matéria que somos feitos todos nós. Como, então, não enxergamos e percebemos a dor alheia de forma fácil e automática e deixamos que algumas pessoas sofram? Onde andamos a guardar toda a vergonha e o peso nos ombros que deveríamos sentir por sermos tão omissos como temos sido capazes de ser?

É verdade que podemos dizer que há pecados e pecados, e que o peso de cada um deles pode ser medido. Mas, pode mesmo? É verdadeiramente mais pecador quem lesa a milhões do que quem lesa a centenas de pessoas ou não? Depende de quem lesamos e do tamanho do dolo? São mais cruéis aqueles que empunham uma arma numa favela no meu país ou os homens que andam com seus ternos caros no Congresso Nacional a roubar-nos todo santo dia?  São verdadeiramente muito piores os poucos que matam do que os milhares que deixam que a matança aconteça? Não é tão fácil quanto parece responder a esta questão quando pensamos nos princípios que deveriam nos guiar. É?

Há alguns dias, o mundo inteiro arregalou seus olhos e sentiu-se um tanto culpado e envergonhado, afinal, o que mais podemos sentir quando vemos o corpo de um pequeno menino afogado, com apenas três anos, chegar à praia de qualquer país. Aylan e sua família, como milhares de outros, queriam apenas fugir de uma guerra sem fim e ninguém fez nada para ajudar-los. Não fizemos nada. Há tanta gente que sofre tão perto de nós e fingimos não ver. Não fazemos nada. Por que somos tão egoístas? Não tenho qualquer resposta para tudo isso, mas por estes dias, para mim, anda complicado medir a amplitude de minha empatia que, em muitos momentos, se apresenta tão raquítica que me dói admitir. Por que eu sou assim?



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